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Uma porta da renda fixa para a renda variável: o ETF


O ciclo de cortes da taxa SELIC - em curso desde o fim de 2016 - é benéfico ao setor produtivo brasileiro à medida que o incentivo para investir capital em empresas passa a ser mais atraente, com um custo de oportunidade menor. Por outro lado, para os investidores mais conservadores alocados em renda fixa, a situação não é das melhores. Aplicações indexadas ao CDI e títulos públicos de curto prazo vêm se popularizando, a despeito da queda do juros nominal. É válido lembrar que se deve considerar a taxa de juros real - ou seja, nominal descontada de inflação - para analisar os melhores investimentos a cada momento. Paralelamente à redução da taxa SELIC para menos da metade em apenas quinze meses, a taxa de juros real sofreu uma redução defasada em poucos meses no mesmo período: de aproximadamente 8% na virada do ano de 2016 para 2017 para aproximadamente 4% em janeiro de 2018.

Ao fim de 2016, era possível adquirir títulos públicos a uma impressionante taxa nominal fixa de até 15,69% ao ano – praticamente única entre os países emergentes e desenvolvidos -, que viria a ser uma excelente aplicação a juros reais cerca de um ano depois, com inflação controlada e juros baixos. Não por acaso, o índice Bovespa estava em uma de suas piores cotações históricas - ao redor dos 39 mil pontos na virada de 2015 para 2016 -, justamente com o ápice da taxa SELIC nos últimos cinco anos, em 14,25%, que vigorou por mais de doze meses seguidos a partir de meados de 2015. Para o investidor conservador, era mais certo se garantir com aplicações de renda fixa a juros altos - se possível, pré-fixados à espera de queda da inflação – a se aventurar pelo mercado de renda variável, conforme denota o gráfico abaixo.

Na virada de 2017 para 2018 a situação é exatamente oposta: com taxa SELIC em mínima histórica de 7% e inflação em 2,95% a.a.,o mercado de renda fixa passou a ser muito menos atraente do que há dois anos. A migração de renda fixa para renda variável pode ser um passo difícil para a grande maioria de investidores, pouco dispostos a enfrentar riscos. O mercado de renda variável, ainda culturalmente muito impopular no Brasil , representa um passo a ser dado para boa parte de potenciais investidores brasileiros.

Um caminho interessante que pode fazer a ponte entre a renda fixa para a renda variável são os ETFs (Exchange Traded Funds). São fundos de índice negociados em bolsa, com ticker próprio assim como as ações. Trata-se de uma modalidade dos chamados investimentos passivos porque não exige uma gestão ativa de investimentos baseada em rigorosos processos de pesquisa. O ETF tem como único objetivo reproduzir índices determinados, tais como o Ibovespa, o S&P 500, índices setoriais ou até mesmo o índice de emissão de carbono. A grande vantagem desse ativo é a minimização do risco intrínseco, particular de cada empresa ou setor, que compõe os índices sem necessariamente ter que dispor de grande capital para adquirir ações de cada uma delas.

No entanto, como os ETFs reproduzem o desempenho dos índices e ao mesmo tempo são precificados pelas forças de compra e venda no mercado? O índice de referência é o que de fato precifica esse tipo de ativo, enquanto as forças de mercado gravitam ao seu redor. Esse comportamento é interessante para o investidor que, aos poucos, planeja sair de renda fixa para a renda variável sem incorrer em alta exposição de risco em decorrência de pouca experiência e falta de informação. Vale lembrar que o Ibovespa é composto por 64 ativos de mais de 60 empresas. Ainda a ssim, apenas 6 empresas respondem por 49% do índice, o que explica em parte seu comportamento muito mais volátil que índices dos EUA, como o S&P 500, dotado de 500 ativos em sua composição. Isso faz com que o risco intrínseco seja ainda mais diluído, restando principalmente o risco sistêmico.

Dois ETFs são particularmente interessantes como alternativas de investimento: o iShares Ibovespa (BOVA11), lançado em 2009, e o iShares S&P 500 (IVVB11), lançado em 2014, pois reproduzem o desempenho de seus respectivos índices. Em função da situação da bolsa brasileira e expectativas de curto prazo, é possível montar uma carteira de renda variável simples ponderando ativos como esses. Ambos são emitidos pela BlackRock, líder global em gerenciamento de investimentos, presente em 30 países. É necessário ressaltar que o comportamento do mercado financeiro no exterior, em especial nos EUA, é muito mais estável, minimizando riscos ao investidor. No entanto, são de fato poucas opções de ativos com exposição internacional no Brasil: o ETF iShares S&P 500 (IVVB11), fundos de investimento multimercado e BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são papéis equivalentes a ações de empresas estrangeiras listadas na Bovespa. Essas duas últimas opções são geralmente menos acessíveis devido ao alto preço das BDRs e ao alto valor médio de entrada em fundos multimercado com exposição internacional. Esse cenário faz do ETF uma boa opção de investimento a valores modestos, especialmente para quem pretende sair de renda fixa em 2018.


Artigo publicado em abril/2018 na 20ª edição da Markets St.


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