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Retorno dos ativos no longo prazo


Um dos princípios mais básicos do mercado financeiro é a relação entre o risco e o retorno: quanto maior a rentabilidade desejada, maior será o risco que o investidor deverá assumir. Seguindo essa lógica, os investimentos em renda fixa geralmente apresentam uma rentabilidade menor que os investimentos em renda variável, já que são menos voláteis e tem retornos mais previsíveis. Levando esses argumentos em consideração, um estudo interessante sobre esse assunto é pensar em qual é a diferença de retorno entre a renda fixa e a renda variável quando se analisa horizontes de tempo maiores, ou seja, quando o foco da comparação é o longo prazo.


Foi exatamente essa a análise feita pelo professor de finanças norte americano, Jeremy Siegel, em seu livro “Stocks for the long run”. Siegel analisou o desempenho de todas as ações norte americanas desde 1802 até 2012, ele fez o mesmo para os títulos de renda fixa do governo americano (Treasury Bonds). Em retornos anualizados as ações tiveram um rendimento real de cerca de 6,6%, enquanto os títulos tiveram um retorno de 3,6%. Isso significa que US$1 aplicado e reinvestido em ações, durante esses 200 anos, teria se tornado quase $705,000. Se a aplicação fosse feita em Bonds, o montante final sería de cerca de $1780.

Siegel também analisou o risco de se investir em ações e em Bonds de acordo com o tempo que o investidor norte americano mantém suas aplicações. Ele observou que os riscos dos investimentos em ações decrescem expressivamente quando os papéis são mantidos por 20 anos ou mais, apresentando resultados ainda melhores para períodos superiores. Outro resultado interessante é o fato das ações superarem o retorno dos títulos em 80% do tempo para 10 anos ou mais investindo, 90% para um horizonte de 20 anos e 99,3% quando esse período é de pelo menos três décadas.


Essas análises são muito interessantes, porém, vários investidores brasileiros alegam que os resultados obtidos para os Estados Unidos não seriam válidos para o Brasil. Essa afirmação geralmente é baseada na comparação entre a rentabilidade do Certificado de Depósito Interbancários (CDI) e o Ibovespa. O CDI é a taxa que os bancos usam para emprestar dinheiro entre si e manter suas operações. Ela é a referência para o retorno da renda fixa e está diretamente atrelada à taxa básica de juros da economia, a Selic. Já o Ibovespa é um índice composto pelas ações mais negociadas da bolsa e é a referência mais popular para o retorno do mercado acionário brasileiro.


Analisando o desempenho do CDI e do Ibovespa desde 1997 até 2018, chegamos a valores que, a primeira vista, são desanimadores. Enquanto o CDI rendeu 2033%, o Ibovespa teve um rendimento de apenas 1608%, ou seja, a renda fixa estaria "ganhando" da renda variável no Brasil. Porém, esse resultado leva em consideração apenas as empresas de maior liquidez da bolsa, as quais, geralmente, não são a melhor medida de retorno. Outro índice que pode ser usado para comparação é o Índice Brasil 100 (IBrX 100), que além da liquidez considera o valor de mercado das empresas. O IBrX 100 é considerado uma forma melhor de avaliar o desempenho dos papéis, trazendo resultados mais coerentes para comparações. Uma análise do desempenho do CDI, Ibovespa e IBrX 100 no período de 1996 a 2014 mostra que: o CDI rendeu 1621%, o Ibovespa 1147% e o IBrX 100 teve um retorno de 2080%, superando a renda fixa. Este resultado está de acordo com o princípio básico de risco e retorno, mas é notável que a renda fixa teve uma rentabilidade muito expressiva nesse período, para entender isso é necessário observar o histórico do mercado financeiro brasileiro.


O Brasil foi, durante muito tempo, um país de elevada inflação, chegando a ter períodos de hiperinflação. Isso sempre exigiu que a renda fixa tivesse um retorno mais elevado, para pelo menos compensar a desvalorização da moeda. Porém, desde a implementação do Plano Real, em 1994, o governo brasileiro vem gradualmente controlando a inflação no país. Com uma inflação mais baixa foi possível reduzir, ao longo do tempo, a taxa básica de juros da economia. Atualmente, o Brasil está com a menor taxa Selic da história e as projeções indicam que essa taxa vai cair ainda mais. Essa queda reduz a atratividade da renda fixa e aumenta os incentivos para investir em renda variável, já que espera-se que esta terá, cada vez mais, um retorno maior quando comparada aos títulos de renda fixa.

Fonte: Banco Central e Itaú BBA

Após uma análise do retorno dos ativos no longo prazo, é possível perceber que a renda variável é uma excelente opção de construção de patrimônio para aqueles que buscam uma rentabilidade mais expressiva. Porém, é importante salientar que a composição da carteira depende do perfil de risco do investidor, ou seja, do retorno que busca e o tanto de risco que está disposto assumir. Além disso, a diversificação dos investimentos entre diversos tipos de ativos, tanto de renda fixa quanto variável, permite uma expressiva redução dos riscos. Neste momento de crise devido a epidemia do COVID - 19, em que a bolsa brasileira desvalorizou mais de 30%, aqueles que detém ativos em renda fixa conseguiram proteger sua carteira de investimentos contra oscilações mais expressivas, mostrando a importância da diversificação. Assim, fica claro que a renda variável será uma opção cada vez mais interessante para os investidores brasileiros, mas é importante sempre levar em consideração o perfil de risco e lembrar de diversificar: dessa forma a renda fixa protege o patrimônio em momentos de maior oscilação, como o atual, e a renda variável potencializa os retornos no longo prazo.


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