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A avassaladora - e silenciosa - arma de dominação chinesa



Se na Roma de César utilizavam-se soldados e, nos EUA de Bush, jatos, a China de Xi Jinping faz uso de uma arma, que, apesar de silenciosa, tem o poder de subjugar qualquer país a sua frente: a dívida.

Muito tem-se falado e aclamado sobre o Belt and Road Initiative. O projeto, já citado em nossos textos, foi nomeado pelo presidente da China, Xi Jinping, como a Rota da Seda do século XXI. O projeto de infraestrutura, no entanto, vai muito além de rebater a terra da antiga rota comercial. Envolvendo mais de 100 países e organizações institucionais, o plano procura fazer uma ponte entre a China e o Ocidente, desenvolvendo infra e comercialmente a área por onde passa. Com investimentos e financiamentos que podem totalizar oito trilhões de dólares, a China, responsável por grande parte da cifra, não só constrói redes de transporte e comunicação, mas, principalmente, uma possível grande armadilha debitária que garante a possibilidade de sua hegemonia no futuro.

Coletivamente, as áreas em que hoje são investidas representam mais de um terço do PIB no mundo. Mais impressionante ainda é o número de pessoas e o estoque de energia disponível que possuem estes países: 62% e 75%, respectivamente, a níveis mundiais. Tais países, localizados ao longo da Ásia, nordeste africano e leste europeu, são, em sua maioria, denominados como subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Beijing já possui projetos financiados pelo governo chinês em mais de 78 destes países e só o Exim Bank, maior credor único do projeto, forneceu empréstimos que são estimados em U$111 bilhões. Com tamanho investimento em países tão pequenos, não só os riscos, mas também as consequências tornam-se incalculáveis.

Casos como o de Montenegro – que emprestou da China o equivalente a um quinto de seu PIB para financiar um terço da rodovia em construção – tendem a se multiplicar. O endividamento dos países já supera em muito a média da relação dívida/PIB mundial, inclusive da média dos países em desenvolvimento. Projetos que causam alvoroço nas expectativas à primeira vista podem se tornar armas populistas que ricocheteiam nos futuros governos e gerações, tendo em vista a falta de claridade em relação aos termos combinados entre os governos. A Malásia, por exemplo, já cancelou três projetos com seu novo primeiro ministro, o qual descreve a iniciativa como a “nova versão do colonialismo”.

Se por um lado se vê tais países com tamanho endividamento, no território chinês a situação não é diferente. Quando se obtém a média do múltiplo “Dívida Total/EBITDA (medida financeira que pode ser considerada uma proxy para a geração de caixa de uma empresa)” dos contratantes e investidores chineses, este está em 9,2x . Os dez maiores contratantes não-chineses, para efeitos de comparação, possuem um múltiplo médio de 2,2x. O que diferencia os investidores chineses altamente alavancados dos países que recebem os empréstimos é a segunda maior economia do mundo dando suporte financeiro para aqueles e assim possibilitando tal endividamento.

A política exterior Chinesa, por meio de tais ações, é de difícil classificação, visto que possui pontos de congruência tanto com o hard power – poder de obrigar alguém por meio da recompensa, coerção ou ameaça –, como com o soft power – que é feito pela atração e persuasão. O gigante asiático conseguiu a própria alcunha para sua política de relações externas: sharp power. A estratégia de poder é caracterizada pelo grande gasto financeiro com o objetivo de moldar as percepções do mundo em relação ao país. Os toques de hard power por via do endividamento de tais países, no entanto, já se tornaram bastante claros. Seja por meio de acordos com governos populistas (ou mesmo somente esperançosos), seja por suas empresas descomunalmente alavancadas, a presença da China em uma área tão promissora como a interseção do Oriente e Ocidente já é uma realidade – e tal presença tem o potencial de mudar a ordem mundial.



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