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Resenha: The Big Short


Depois de “Wall Street: Money Never Sleeps” (2010) e “O Lobo de Wall Street” (2013), parece que Hollywood pegou gosto para filmes sobre o mercado financeiro. “The Big Short” (“A Grande Aposta”, em português), baseado no livro de mesmo nome, escrito por Michael Lewis, mostra o outro lado da crise americana. Não apresenta teor acadêmico, porém esclarece termos e situações aos leigos. O núcleo é sério, mas, ao mesmo tempo, simples, tornando-o fácil de ver. O filme conta a história de um grupo de investidores que, contra tudo e todos, percebeu a bolha que se formava e acabou ganhando muito dinheiro com isso.

Ao antever que o sistema imobiliário nos Estados Unidos iria quebrar em breve, Michael Burry (Christian Bale), que gere o seu próprio fundo, decide apostar contra o mercado. Ao saber dos boatos dessa operação, Jared Vennett (Ryan Gosling) percebe a oportunidade e passa a oferecê-la aos seus clientes que, no caso, viriam a ser Mark Baum (Steve Carell) e seus sócios de um pequeno fundo, sediado dentro do Morgan Stanley. Além disso, dois iniciantes na bolsa percebem a oportunidade e com a ajuda de Ben Rickert (Brad Pitt), exguru de Wall Street que vive recluso após ter largado o trabalho, resolvem seguir essa mesma operação.

A expressão “ficar short” quer dizer “ficar vendido em um ativo”, ou seja, apostar contra a valorização do mesmo. No caso, esse grupo de investidores (que não chegaram a se conhecer), criou um derivativo que ia contra os bancos e o mercado imobiliário, o qual nunca havia quebrado. Basicamente, Burry percebeu uma inconsistência nas hipotecas subprime, que são financiamentos dados a pessoas com histórico ruim de crédito, ou seja, de alto risco. Esse facilitamento começou a acontecer depois de 2000, após o estouro da bolha da tecnologia. Com a queda da taxa de juros e uma grande base monetária, os bancos começaram a emprestar dinheiro a qualquer um, sem nenhum critério para o mesmo. Começou-se a especular com imóveis, sobrevalorizando-os e criando uma bolha. Essas hipotecas foram securitizadas, o que significa que se tornaram títulos negociáveis que passaram a ser vendidas a instituições financeiras por todo o mundo. As pessoas refinanciavam suas casas para pagar o cartão de crédito. Porém, em meados de 2004, o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) começa a elevar os juros, diminuindo a demanda por imóveis financiados e, dessa forma, o mercado imobiliário passa a se desvalorizar. Assim, começaram os calotes hipotecários, já que as pessoas não conseguiam pagar as suas prestações com esse novo nível de juros - ou simplesmente abandonavam seus imóveis, pois não haviam pagado nenhuma entrada para receber o financiamento. Resultado: entre 2005 e 2008 os calotes imobiliários aumentaram 750%.

Resenha

O filme evidencia a bolha que havia se formado, mas ninguém percebia – ou não queria perceber. Era evidente que a situação ficou insustentável, porém os derivativos de empréstimos subprime continuavam a se valorizar, com o maior rating do mercado. Inclusive, o filme deixa bem clara a irresponsabilidade das agências de risco. Chega a ser agonizante quando o personagem de Steve Carell percebe que aquela bolha, ao estourar, iria causar a maior crise da história americana. Inclusive, é o personagem mais emblemático da história: de todos, é o único que consegue passar parte de seus problemas pessoais e mostra uma visão mais “humana” do investidor de Wall Street.

Mesmo “torcendo” para os protagonistas da história, o telespectador se dá conta que ninguém saiu vitorioso dessa operação. O saldo da crise foi um aumento no desemprego mundial (em 2009, o desemprego nos EUA chegou perto dos 10%, além do desemprego europeu que até hoje sofre as consequências), a quebra de grandes empresas e a desaceleração da economia mundial. Mas, sem dúvidas, “A Grande Aposta” é um filme para todos que têm interesse no mercado financeiro e em entender mais um pouco sobre a grande crise que mudou o rumo do neoliberalismo.


Artigo publicado em março/2016 na 12ª edição da Markets St.


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