Em 2015, Jamie Dimon, CEO da JPMorgan Chase, escreveu uma carta alertando seus acionistas para a chegada do Vale do Silício em Wall Street. Essas fintechs, disse ele, ameaçavam todo o setor bancário. Um ano depois, seu banco iniciou um projeto de colaboração com startups financeiras.
O JP não foi o primeiro a tomar esse tipo de iniciativa. Credit Suisse, Bank of America e o nacional Itaú BBA, por meio do Cubo, espaço colaborativo que abriga mais de 50 startups, seis delas financeiras, já cortejam as fintechs em busca de inovação.
A mensagem parece ser a do velho ditado: “se não pode vencê-los, junte-se a eles”.
Depois de o Netflix levar a Blockbuster à falência e taxistas do mundo inteiro se desesperarem com o Uber, os bancos contam com algo valioso: informação. Dimon sabe que, apesar de 90% das startups fundadas irem à falência, as 10% restantes são capazes de abalar mercados aparentemente inatingíveis. As fintechs têm, afinal, algo que nem o JP pode ter: velocidade. Livres das burocracias que prendem os gigantes, empresas, como a Intoo, conseguem, em 24 horas, realizar um empréstimo que tomaria de 20 a 45 dias do Bradesco.
O governo também já percebeu que as fintechs vieram para ficar. Em 2013, o Banco Central lançou um marco regulatório permitindo que pagamentos sejam feitos sem o intermédio de uma instituição financeira. Pode parecer pouco, mas em um país como o Brasil, onde, para abrir uma padaria, podem ser precisos mais de 20 alvarás diferentes, é um grande avanço.
Ainda assim, muitos dizem que, apesar das novidades e do sucesso em outras áreas, as startups não têm muito futuro no mundo das finanças. Parece um “conto de fadas” imaginar um grupo de jovens recém-formados fazendo os executivos de Wall Street tremerem. Mas grandes investidores digitais, como o Sequoia Capital, que fez fortuna por apostar na Google e na Apple ainda cedo, já acreditam nessa possibilidade. E fundos novos estão nascendo especificamente para “inovar o mercado financeiro” - mantra da Ribbit, fundada em 2013, que já levantou mais de 400 milhões. A estratégia do venezuelano Micky Malta, dono do grupo, é apostar em fintechs novas, oferecendo seed capital. Segundo Malta, a Internet mudou radicalmente o mundo, mas ainda não atingiu os bancos com a força de que é capaz. E ele pretende mudar isso, junto aos aventureiros desse novo e instigante mundo.
Dentre eles, o Marco Polo no Brasil é, sem dúvida, a Nubank. A princípio, parece uma empresa normal: oferece cartões de crédito. Esse cartão, dos mais cobiçados do país, tem uma fila de espera de mais de 400 mil pessoas, feito inédito. Com juros baixos, pouca burocracia e sem anuidade, a NuBank parece ter catalisado todas as vantagens que fintechs podem ter sobre firmas tradicionais. Qualquer problema que surja pode ser resolvido por meio de chat on-line e um app, que também oferece informações detalhadas dos gastos do cartão e permite pagamento das faturas online na hora. Quanto à fila, a empresa explica que faz uma análise de crédito de todos os seus clientes, e ainda não tem tamanho para suprir a demanda atual. Se depender dos investidores, como o próprio Sequoia e o Goldman Sachs, que já aportaram cerca de US$ 100 milhões à empresa, fazendo seu valor de mercado chegar 500 milhões de dólares, isso deve mudar em breve. Em seu projeto de expansão, a Nubank construiu uma nova sede, que ocupa um prédio inteiro e lembra os “escritórios” da Google: salas de reunião com pufes, divisões de ambientes feitas por cor do carpete em lugar de paredes, sala de jogos e até um ambiente para cachorros.
David Vélez, fundador e CEO, explica que a ideia surgiu após, tendo se mudado para o Brasil, ir a uma agência bancária para abrir uma conta e se deparar com burocracias intermináveis, juros altíssimos e ineficiência estonteante. Viu nisso uma oportunidade: “O Brasil tem uma grande adoção de smartphones e sempre foi destaque em quase todas as plataformas sociais (como Facebook, WhatsApp e Twitter), então por que não criar um banco usando tecnologia?”, disse em entrevista à Gizmodo. Vélez conta com uma combinação poderosa de experiências: sua passagem pelo Morgan Stanley, Goldman Sachs e Sequoia Capital combinada com o tempo no conselho administrativo da Despegar.com que no Brasil opera como Decolar. com e cujo tamanho é indicado por seu faturamento de US$ 4 bilhões ao ano, lhe deram conhecimento tanto do mundo financeiro quanto do digital, as duas áreas nas quais a Nubank atua.
Apesar do protagonismo, ela é apenas uma de muitas fintechs que poderiam ser citadas. Outras, como a Pagar.me, a Kitado e a GuiaBolso têm também potencial de abalar o mundo das finanças, quebrar recordes e gerar fortunas - ou, como é tão comum entre startups, quebrar espetacularmente. Resta, portanto, saber quem conseguirá recolher os espólios do encontro do Vale do Silício com Wall Street: os já estabelecidos bancos, experientes e inatingíveis, ou as novas e voláteis fintechs, ousadas e inovadoras?
Artigo publicado em janeiro/2017 na 15ª edição da Markets St.
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