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Em meio a volta do protecionismo, barreiras alfandegárias e a anti-globalização da maior, e por enquanto, mais influente economia do mundo, Trump cede um vácuo na liderança global ambicionado pela China de Xi Jinping. Desde sua inesperada eleição no ano passado, o polêmico governo de Trump vem mantendo-se em seu lema “America First”: já retirou o país do tratado do transpacífico, a aposta diplomática-econômica asiática de Obama, renegocia o NAFTA, corta financiamentos para com o Banco Mundial e pressiona (e até ameaça) empresas americanas para que voltem a produzir no próprio país.

Xi Jinping, por sua vez, reelegendo-se para mais um termo e estabelecendo poder suficiente para sua perpetuação indefinida na liderança do Partido Popular Comunista, toma outro caminho, recria a Rota da Seda, projeto direcionado a manutenção de infra-estrutura atravessando o Oriente.

Enquanto um retira o país dos principais tratados, renegocia termos de troca com seus principais parceiros comerciais com um discurso agressivo e unilateral, outro faz o maior plano de investimento exterior já visto, estimado em um trilhão de dólares e sete vezes o Plano Marshall, quando os EUA procuravam sua hegemonia pós 2a Guerra.

A disputa (se ainda assim pode ser chamado) torna-se não somente econômica, mas uma disputa de sistemas totalmente distintos. A condenada ditadura de partido único chinês bate de frente com o capitalismo concorrencial da democracia americana. Na verdade, a conturbada democracia americana. A China procura a aceitação internacional de seu regime reprovado pelo Ocidente’ na época de maior impopularidade do sistema democrata, surgindo como alternativa para um crescimento econômico contínuo por via de uma economia direcionada pelo governo.

Se nos Estados Unidos Trump corta verbas na pesquisa científica, deixando assim as dezenas de grandes empresas competindo para se sobrepor no futuro com investimento maciço em inteligência artificial, aglutinando centenas de startups todo ano, a China gasta mais de 150 bilhões de dólares para tais tecnologias em um plano de cinco anos. Os Estados Unidos ainda podem continuar a ser a fronteira tecnologia mundial por meio da competição de suas gigantes, porém a China vem logo atrás ameaçando-o com sua política de compartilhamento de patentes das empresas internacionais, e o uso possivelmente irrestrito das informações e dados das empresas nacionais com o governo chinês.

O Ocidente já vem dando sinais da aceitação de Xi: a mais recente pesquisa da Global Leadership Approval, da Gallup, mostra a China a frente dos EUA, que caíram dezoito pontos percentuais em um ano. Os discursos do líder chinês defendendo a globalização em conferências como a de Davos se aproximam do discurso dos dois principais líderes europeus Merkel e Macron, enquanto Trump fica aos risos com Teresa May.

Apesar dos esforços e aproximações, ainda assim o gigante oriental possui barreiras a serem enfrentadas para atingir seu objetivo. O regime chinês, que restringe liberdades individuais e persegue críticos, ainda é pouco aceito pelo Ocidente. Além disso, a China possui uma força militar ainda em construção muito menor do que a americana (são dois porta aviões contra doze, respectivamente). Superando tais barreiras e não havendo qualquer reação dos EUA, possivelmente teremos uma nova liderança mundial e China First.


Artigo publicado em abril/2018 na 20ª edição da Markets St.


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