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O Tigre Indiano


Sempre que pensamos em crescimento econômico, é inevitável que, de imediato, não venha um país em mente: China. O gigante asiático é atualmente a segunda maior economia do mundo, com um desempenho invejável em comparação com as cinco maiores economias, que mesmo após a crise mundial de 2008 conseguiu manter um ritmo de crescimento em torno de 7% ao ano ao longo dos últimos 6 anos. Porém, segundo projeções feitas pelo FMI, até o ano de 2019 pode-se esperar uma gradual desaceleração do crescimento chinês, fato que vem acontecendo paulatinamente desde 2012. Esse cenário previsto de crescimento mais lento para Pequim dá espaço para outra economia emergente do continente asiático, que vem mantendo perspectivas de crescimento animadoras: a Índia. Tais perspectivas foram reforçadas principalmente após a confirmação de um crescimento de 7,2% no terceiro trimestre de 2017, frente aos 6,8% de crescimento chinês.

O Fundo Monetário Internacional, acompanhando o otimismo do crescimento indiano, projeta uma aceleração no crescimento do PIB do país de até 7,8% em 2019, mostrando uma tendência que surpreende, em meio a uma média de crescimento dos países com economias mais desenvolvidas de cerca de 2%. Mas afinal, como a maior economia do subcontinente indiano adquiriu toda essa força e por que suas projeções são tão positivas?

Para a compreensão desse fenômeno, é crucial entender o contexto econômico indiano, o que gerou a necessidade das reformas aplicadas e que caráter tiveram tais reformas para permitir o crescimento do PIB. Assim sendo, é necessário começar a análise do fenômeno indiano em meados da década de 80, época em que houve uma série de pequenas mudanças que ajudaram a economia da Índia a começar a tomar forma.

Essas pequenas reformas começaram a ser introduzidas durante o governo de Rajiv Gandhi (1984-1989), que tinham como foco a redução de tarifas sobre produtos importados e o aumento de incentivos à exportação. Tais medidas resultaram na dinamização e maior abertura da economia indiana, deixando para trás fantasmas como o da crise de 1979, que havia reduzido o PIB indiano em 5,2% devido à falta de infraestrutura energética para suprir a produção industrial e à grande seca que minou a agricultura indiana. Os resultados geraram uma elevação do crescimento industrial, que passou de 4,5% de 1985-86 para surpreendentes 10,5% em 1989-90, acompanhada de um aumento nas exportações indianas de 12% entre 1985 e 1990, sinalizando a recuperação da economia no período pós 79.

Porém, a grande problemática de tal crescimento da exportação e da indústria se deve ao fato de que este não só adveio das reformas realizadas, mas também de empréstimos estrangeiros que foram necessários devido a uma balança comercial extremamente desfavorável do país. Isso, combinado com um alto gasto governamental sem comprovada eficiência, veio a gerar um déficit impagável ao longo dos anos, gerando uma dívida estrangeira somente menor que a do Brasil e do México na época, o que inevitavelmente culminou em uma crise em 1991. Tal fato evidenciou a fragilidade da expansão econômica do país, fundamentada em reformas pouco profundas, o que resultou em uma variação da taxa de crescimento do PIB indiano de 9,6% em 1988 para 1,1% em 1991, a mais baixa em 12 anos.

Entretanto, como disse Kennedy em 1959, “Quando escrito em chinês, a palavra crise é composta de duas partes: uma representando perigo e a outra representando oportunidade”. Essa crise, apesar de ter devastado a economia indiana, proporcionou algo muito mais valioso para o país hindu a longo prazo: a possibilidade de aprofundar ainda mais suas reformas para assim conseguir um crescimento realmente consistente. Manmohan Singh, o ministro das finanças da época, realizou uma série de medidas que foram rumo à liberalização da Índia, como a abolição da maioria das licenças de produção, a continuidade e elevação da flexibilização das indústrias e a abertura de indústrias nacionais a capital estrangeiro.

Tais políticas foram o que possibilitaram a entrada de capital estrangeiro e o crescimento de alguns setores de tecnologia indianos, o que ajudou tanto a retomada do crescimento do país, quanto sua maior estabilidade. Desde 1991, não se vê uma taxa de crescimento do PIB inferior a 3,8%. Devido a esse sucesso, em tais políticas, vê-se desde então a aplicação de uma série de medidas econômicas baseadas no bom desempenho das reformas liberais de 91, como a abolição completa do sistema de licenças de importação, a diminuição de tarifas sobre os produtos importados e a quebra do monopólio estatal sobre o setor de telecomunicações. Isso possibilitou ainda mais a entrada de investimento estrangeiro, que acabou impulsionando o crescimento industrial no país.

Dadas essas medidas tomadas ao longo de 33 anos, é compreensível o porquê da Índia se manter como uma economia em ascensão, mesmo diante de choques externos, como a crise de 2008. Afinal, não se pode desconsiderar que a Índia tem um dos maiores mercados consumidores e exércitos de mão de obra do mundo, o que a torna altamente atrativa para investimento estrangeiro, mesmo em momentos de crise externa.

Com seu PIB per capita crescendo de forma meteórica, saindo de 450 dólares, em 2002, para 1670 dólares em 2016, a Índia cada vez mais é um país que precisa estar dentro da equação, quando se pensa em comércio global.

Tudo isso demonstra que a Índia ainda tem um grande potencial de crescimento, como o próprio relatório do FMI afirma. Todavia, é necessário lembrar que esta expansão é natural, dadas as políticas econômicas feitas tanto nos últimos 33 anos no país, mas não é inerente a Índia.

Para que toda essa condição de crescimento se mantenha, é necessário que a Índia continue seguindo o caminho das reformas liberais, dando continuidade tanto à entrada de investimentos externos, quanto ao aumento da geração de empregos. Ao longo da história recente, vê-se que a abertura econômica é o caminho mais estável e próspero para o crescimento da maior economia do subcontinente indiano.


Artigo publicado em junho/2018 na 21ª edição da Markets St.


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