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Caso IRB - uma lição aos investidores



A empresa que o Warren Buffet não é, não foi, e nem pretende ser investidor


O episódio de pump and dump das ações da Gamestop teve inúmeras consequências. Uma delas foi a tentativa – falha – de investidores pessoa física, no Brasil, emularem o evento de compra organizada de ativos, em busca de retornos altos. Dentre os ativos escolhidos para esta operação, destaca-se uma das ações mais comentadas no fintwit: o IRB Brasil Resseguros.


Dentro do hall de empresas com origem em um monopólio estatal no Brasil, o IRB era uma das menos conhecidas. Criado em 1939, como Instituto de Resseguros do Brasil, a companhia tinha como objetivo nacionalizar os mecanismos financeiros de gerenciamento de riscos de empresas brasileiras, diminuindo a parcela de administração de riscos feita por empresas estrangeiras.


Ainda, é valido ressaltar a diferença entre uma empresa de seguros e uma empresa de resseguros: enquanto a primeira emite um seguro diretamente relacionado ao ativo segurado, as resseguradoras emitem um seguro indireto. Em resumo, os resseguros servem para evitar déficits de caixa das seguradoras em casos de acionamento simultâneo de muitas apólices, ou em eventos de larga escala, como em desastres aéreos.


O IRB teve papel fundamental, inclusive, na garantia da execução de certos projetos, extremamente relevantes para a infraestrutura industrial e logística do Brasil, sendo responsável pela cobertura de obras de manutenção e expansão de portos e ferrovias ao longo do território brasileiro.


Com um modelo de negócios bastante maduro em mercados desenvolvidos, a companhia vinha apresentando resultados significativos desde seu IPO em 2017. Este desempenho despertou o interesse de diversos fundos e investidores a ponto das ações da empresa apresentarem uma valorização de aproximadamente 243%, no período entre janeiro de 2018 e fim de 2019. Com indicadores de ROE muito à frente de peers internacionais e um lucro anunciado de R$ 1.7 bilhões, no primeiro trimestre de 2020, era difícil discordar das 11 recomendações de compra dos analistas dos maiores bancos e instituições financeiras do mundo.



Uma contrapartida à exposição positiva desses ganhos veio na forma de uma investigação mais profunda dos resultados por parte de alguns fundos que não se contentaram em aceitar passivamente a tese de investimento. Um exemplo foi o esquadrão de analistas da Squadra Investimentos, responsável por realizar um trabalho bastante robusto, questionando alguns pontos relevantes acerca dos resultados do IRB.


As críticas dos analistas do fundo, que manteve uma posição vendida nos papéis da resseguradora por um longo período, podem ser resumidas nos seguintes pontos: (i) baixa sinistralidade dos riscos emitidos no Brasil em relação aos emitidos no exterior, (ii) discrepância entre as despesas da companhia e os sinistros reportados pelas seguradoras do país, (iii) discrepância entre o lucro antes do imposto de renda declarado pela empresa e as estimativas dos analistas da Squadra.


Mesmo com alguns olhares ainda céticos ao trabalho de investigação feito pelo time da Squadra, o mercado deixou clara a sua falta de amarras com qualquer ativo que seja, fazendo com que as ações do IRB caíssem perto de 20%, no período próximo ao que a Squadra disponibilizou seu relatório.


Logo em seguida, surgiram boatos de que a Berkshire Hathaway - empresa de Warren Buffet – não só teria comprado ações do IRB, como também aumentado sua posição após o escândalo. Tão cedo quanto, a holding americana desmentiu a informação, uma fake news criada por um antigo membro do Board da empresa.


Somadas às fraudes contábeis, algumas investigações feitas pela Polícia Federal, pela CVM e outro episódios negativos na história do IRB geraram resultados devastadores para a companhia.


Contudo, essa movimentação tende a gerar frutos positivos para a empresa no longo prazo, uma vez que houve uma troca de toda a equipe de gestão e direção. Em seguida, com o andar das investigações, ajustes foram feitos aos lucros da companhia, com redução de R$ 117 milhões, em 2018, e R$ 553 milhões em 2019.


O cenário atual ainda é incerto. O resultado do 1T21 apresentou melhoras em relação a 4T20, com retomada de Lucro Líquido de -R$ 620 MM, para R$ 51 MM, e uma melhora de margem líquida de -28,3% para 2,7%. A empresa ainda tem um posicionamento bastante forte no Brasil, com manutenção e renovação de contratos com clientes relevantes, mas, no cenário internacional, há uma perspectiva menor de ganhos. Dessa forma, considerando que aproximadamente 50% do resultado da companhia ainda é proveniente dos prêmios recebidos internacionalmente, é difícil refutar os argumentos contrários a tese de investimento em IRB.

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