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Fundos Ativos x Fundos Passivos


Durante os últimos 50 anos, a ideia de que fundos de gestão passiva superam os fundos ativos, ganhou espaço. Esse debate é ascendente no mercado e coloca em xeque a indústria de stock picking. No entanto, ainda faltam provas concretas para que se confirme a superioridade da gestão passiva.

Primeiro, é importante diferenciar o que é gestão ativa e passiva. A distinção acontece porque fundos com gestão ativa buscam superar o seu benchmark (índice de referência), ao passo que os passivos replicam o índice de referência. Os fundos de gestão passiva são, majoritariamente, representados pelos Exchange Traded Funds (ETFs). Esses fundos têm suas cotas negociadas em bolsa e normalmente replicam um índice de ações ou renda fixa - entre os mais populares estão: o BOVA11, que replica Ibovespa, BRAX11 (se baseia no IBrX 100) e SMAL11 (Índice Small Cap). Contudo, reconhecemos gestão ativa como aquilo que ordinariamente chamamos de "investir", ou seja, selecionar ativos a dedo, buscando bater algum benchmark. A ideia por trás dos fundos de gestão ativa é de que profissionais do mercado conseguem retornos melhores do que o investidor pessoa física, porém essa é uma concepção que vem perdendo força.

Em 1973, o economista e professor de Princeton, Burton Malkiel, disse em seu livro "A Random Walk Down Street" que um macaco vendado atirando dardos para uma lista de ações poderia se sair tão bem quanto um profissional do mercado. Malkiel foi o primeiro defensor da ideia de investimento passivo, explicitando a aleatoriedade envolvida no processo de escolha de ações. Porém, o economista não negou a possibilidade de bater o mercado, apenas constatou que fundos, em sua maioria, possuem resultados menores ou similares aos mercados, considerando as taxas cobradas, ao longo do tempo. Três anos depois, seguindo o raciocínio de Burton, John Bogle (Vanguard Group), criou o primeiro fundo de investimento passivo.

Dados mais recentes nos mostram uma minoria de fundos que conseguiram ser consistentemente melhores que o mercado num período longo de tempo, entretanto, conseguiram ser efetivos num curto prazo. E isso se deveu muito às altas taxas cobradas por esses fundos, confirmando a tese do professor de Princeton.

Taxa de Sucesso para fundos com gestão ativa nos EUA (%)

Como consequência, fundos indexados vêm crescendo rapidamente nos últimos 10 anos (Imagem 2). Em 2019, vimos esses fundos ultrapassando seus rivais com gestão ativa pela primeira vez na história - em agosto de 2019 fundos passivos acumularam $4.3 T, enquanto fundos ativos perderam parte de seu montante e chegaram a $4.2 T - dos EUA. No Brasil, contra a maré americana, o crescimento dos fundos ativos tem sido bastante superior ao dos fundos passivos, apesar de possuírem retornos relativamente piores quando comparados aos estrangeiros, o sinalizando que tanto os investidores, quanto a indústria de fundos acreditam que existem ineficiências de mercado a serem exploradas.

Montante investido em fundos passivos e ativos nos EUA

De acordo com estudo feito pela ANPAD no Brasil, encontraram-se evidências de que um número significativo de fundos de ações ativos - que possuem retornos positivos ao mercado - explora anomalias conhecidas, como tamanho, razão entre valor contábil e valor de mercado do patrimônio líquido e momento. No estudo realizado, apenas 4,6% dos fundos ativos apresentaram alfa significativamente positivo quando se analisa retornos líquidos. Esse número mais que dobra quando analisamos o retorno bruto do investimento, demonstrando a importância das taxas cobradas no rendimento final do investidor.

Em 2017, Warren Buffet disse em uma de suas cartas que tanto investidores grandes quanto pequenos deveriam se ater a fundos indexados de baixo custo, pois, de acordo com seus cálculos, os investidores já teriam pago mais de 100 bilhões de dólares para os administradores de dinheiro em Wall Street. Mas Buffet coloca seu dinheiro em fundos passivos?

Não, o lendário investidor ainda bate o mercado escolhendo suas ações, o que pode nos indicar que o stock picking ainda não esteja morto. Buffet e outros investidores com sucesso, como Peter Lynch ou Ray Dalio, mostram que é possível vencer o mercado no longo prazo. Mais que isso, que certas estratégias se mostram consistentes para esse objetivo. Apesar de serem extremamente transparentes no que fazem e terem passado aprendizado impagável em seus livros, a maioria dos gestores não consegue replicar seus feitos.

Gestores ativos se defendem dos números ruins dos últimos anos dizendo que o ano de 2008 foi anormal e fez com que ativos fossem negociados por especulação em detrimento dos seus fundamentos. E vão além, afirmando também que todo esse montante colocado em fundos indexados gerará grandes oportunidades, pois não há distinção entre companhias boas e más dentro dos índices.

Se podemos afirmar algo, isto é: retorno passado não é garantia de performance futura. Por esse motivo, não podemos afirmar que fundos ativos são de fato ineficazes, em seu cerne. Porém, é inquestionável a dificuldade de se bater o mercado. De certo modo, os gestores ainda terão que demonstrar novamente seu valor para o mundo. O que nos leva a um ponto positivo: essa competição deve instigar fundos a performar melhor, caso contrário deixarão de existir (ao menos a parte que perde para o mercado).

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