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Sobre afinadores de pianos


Em uma conversa com um amigo que toca piano, também estudante de economia, perguntei-lhe como se afina um instrumento daquele porte. Esperando uma resposta na linha de “aperto ou afrouxo esta ou aquela tarracha”, fui surpreendido quando me respondeu que simplesmente contrata um afinador de pianos, que passará um bom tempo fazendo processos que envolvem mais do que simplesmente apertar ou afrouxar tarrachas. Em seguida, questionei o porquê de ele não aprender a afinar seu próprio piano, já que economizaria um bom dinheiro. Em sua resposta, poucas palavras, mas muita intuição econômica: “posso gastar melhor meu tempo fazendo outras coisas”.

Nesse pequeno parágrafo está embutida a noção de custo de oportunidade, importantíssima para a compreensão do modo de pensar existente por trás de muitos modelos clássicos de economia. Em termos gerais, o custo de oportunidade de se fazer alguma coisa é aquilo que poderia ter sido feito no tempo gasto para fazer essa coisa. Se estamos falando da produção de dois bens, A e B, o custo de oportunidade de se fazer o bem A não é nada mais do que a quantidade do bem B que poderia ter sido feita com os mesmos recursos utilizados para produzir A. No caso do meu amigo, em vez de aprender a afinar o piano, ele poderia usar seu tempo livre para estudar Econometria, o que certamente lhe traria mais benefícios.

Esse resultado é um dos principais quando se pensa em custo de oportunidade. A especialização de indivíduos em diferentes atividades decorre justamente da diferença de custos de oportunidade entre eles nessas atividades. Ora, o Neymar seria capaz de lavar a própria roupa, mas é muito mais vantajoso que ele gaste seu tempo jogando bola ou participando de campanhas de marketing, e contrate alguém que lave suas roupas em troca de um salário. Ao mesmo tempo, a pessoa que foi contratada não deve ter o mesmo talento que Neymar nas outras áreas, então é melhor que ela aceite o emprego ao invés de tentar ganhar a vida jogando futebol.

Os ganhos com especialização, pensados pela ótica do custo de oportunidade, não servem apenas para indivíduos. O Modelo Ricardiano, que tenta explicar as origens do comércio internacional, afirma que um país exportará o bem em cuja produção possua vantagem comparativa. O conceito de vantagem comparativa capta justamente os diferentes custos de oportunidade na produção dos bens a serem importados ou exportados: se o custo de oportunidade de produzir soja no Brasil é menor que o de produzir eletrônicos na China, dizemos que o Brasil tem vantagem comparativa na produção de soja e, portanto, exportará soja para a China. Nesse exemplo, simetricamente, a China produz eletrônicos com menor custo de oportunidade, exportando-os, dessa forma, para o Brasil. O resultado do modelo é que o Brasil se especializará na produção de soja e a China, na de eletrônicos. Ainda que as hipóteses do modelo, como concorrência perfeita e ausência de custos de transporte, possam parecer irrealistas, ele com certeza fornece boas intuições.

E eis a beleza da economia. Um conceito simples como o de custo de oportunidade serve de base para explicar desde a simples contratação de um afinador de pianos até o comércio entre dois países.



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