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AMLO Presidente virtual do México


No dia 1 de julho de 2018, Andrés Manuel Lopes Obrador, popularmente conhecido como AMLO, foi eleito para a presidência do México com a coalização "Juntos Haremos Historia." O presente governador da cidade do México ganhou a presidência com 53% dos votos validos, mais do que o dobro de seu rival.

O presidente virtual teve uma campanha de oposição na qual prometeu acabar com a pobreza, a corrupção e a violência. AMLO já tinha perdido nas duas últimas eleições: para Calderon em 2006 e para Enrique Peña Nieto em 2012. Desta vez, ele ganhou com 30 milhões de votos, o maior número de votantes da história do país e 11 milhões de votos a mais dos que elegeram Peña Nieto, o presidente mais votado da história A eleição tem significância por ter possibilitado a primeira presidência de esquerda no México em décadas, produto de um movimento social de repúdio contra o status quo e um voto de punição contra o Partido Revolucionário Institucional (PRI). O país tem sido representado por presidentes do PRI durante mais de um século, sendo interrompido pelo Partido da Ação Nacional (PAN) somente entre 2000 e 2012.

AMLO tem sido comparado a candidatos populistas e nacionalistas como Donald Trump e Jair Bolsonaro, e, se formos considerar a raiva popular contra o estabelecimento por trás do seu apoio, até poderia ser. No entanto, a sua maneira de lidar com os problemas sociais e econômicos do país é muito menos bélica, e muito mais igualitária. O presidente propõe resolução de conflitos por meio de foros e plebiscitos públicos. Ele pretende ter um governo austero e morar fora do palácio presidencial, além de oferecer salários mais baixos para todos os políticos do seu gabinete. Ainda, este será composto por 50% mulheres, o que é impensável para os outros dois, famosos pelas suas falas misóginas. Melhor comparar o "Amlove" com o Mujica ou até com o Lula.

Isso não é para dizer que AMLO não defenda o combate à corrupção ou que esta não seja um problema no México. Foi descoberto que a Odebrecht pagou propina para políticos do PRI e para o presidente da estatal de petróleo Pemex em troca de vantagens. Nesse tema, a sua estratégia é fortalecer as investigações, que têm sido quase inexistentes, dado a falta de confiança sistêmica no país. Mas, devo admitir que, ao defender que o dinheiro que sai dos cofres públicos deveria ser usado para fazer investimentos sociais, AMLO está dando um golpe baixo. Quem diria que isso não seria legal?

A eleição aconteceu após o período de campanha mais violento da história do país, com mais de 130 políticos assassinados durante o período eleitoral. A luta contra a indústria do narcotráfico tem transformado o país num campo de guerra nos últimos 12 anos, desde que o governo PAN mandou o exército ocupar as ruas. A sua secretária de governação (secretaria de gobernación), Olga Sanchez Cordero, já tem preparada a lei que defende amnistia para pessoas que se envolveram com a indústria das drogas ilícitas. Os beneficiados por essa lei seriam traficantes e transportadores pequenos, pessoas em situações de risco econômico que se viram sem opções e que não cometeram crimes contra humanidade. Além dessa, outra iniciativa inclui reduções de pena para aqueles que cometeram crimes maiores, com o objetivo de usar informações fornecidas por eles para achar os milhares de desaparecidos, visto que o México teve mais de 35.000 pessoas desaparecidas por causa da guerra contra as drogas.

Adicionalmente, se considera outra iniciativa para a descriminalização da plantação e consumo de maconha e talvez até de papoula, principal ingrediente na fabricação de heroína, que seria usado para produzir fármacos. O país tem visto uma queda na produção de papoula, causada pela epidemia do uso de opioides sintéticos legais nos Estados Unidos e Canadá. Essas medidas teriam impacto devido à proximidade do México com os Estados Unidos, e também pela possibilidade de posicionamento do país como um dos principais produtores dessas potenciais commodities. Entretanto, para acabar com a guerra às drogas, AMLO precisa ter uma estratégia complexa que diminua o incentivo econômico do tráfico. Assim, ele oferece 3 milhões de bolsas de estudo para jovens e programas de subsídio para regenerar a indústria agrícola do país. O seu objetivo utópico é de fortalecer a agricultura para tornar o país autossuficiente em termos alimentares. Acompanhando esses planos, ele planeja manter o acordo de NAFTA, mas defender mais o povo mexicano nas renegociações. Nacionalista, mas nem tanto.

Tudo isso pode parecer muito generoso. Logo, várias fontes criticam a falta de detalhamento sobre a fonte dos recursos, especialmente se os supostos 500 milhões recuperados da corrupção não chegarem assim tão rápido. Para piorar os medos de seus críticos, ele ainda propõe congelar os preços da gasolina e aumentar o salário mínimo em 16% a cada ano durante o seu mandato. Combinações de medidas como essas e planos pouco realistas sobre como aumentar as receitas no país são preocupantes. De qualquer maneira, de acordo com Aram Barra, ativista de direitos humanos, "sem uma regulamentação das drogas, é impossível pensar em uma pacificação do país." E, sem paz, a economia não cresce.

Por enquanto, Juntos Haremos Historia terá que convencer AMLO a aceitar segurança pessoal pelos próximos meses para assegurar que ele sobreviva, até tomar posse oficialmente. Seu governo começará em dezembro, e a coalização estará firmemente no controle com o apoio do povo, maioria no governo estatal, e a poucos passos de conseguir a maioria no congresso. Dessa maneira, terá poucos impedimentos para mudar a constituição e implementar as leis que determinarão o futuro do país. Só o tempo dirá o que virá.



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