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Educação SA: do ensino superior ao básico


Educação. Um tema de várias faces no Brasil, sempre alvo de críticas, permeadas por insatisfações políticas e sociais: baixo investimento público, baixa qualidade, desvalorização dos professores etc. Muito embora este seja o escopo da discussão pública, a educação tem ganhado vulto em outro cenário, o corporativo.

Esta posição de destaque vem desde o início desta década, quando a educação superior brasileira era formada, majoritariamente, por pequenas e médias instituições de ensino superior, sem nenhuma consolidação do setor. Neste momento, surgiram as grandes empresas educacionais, como a Kroton SA e a Estácio SA, hoje, as maiores do setor educacional.

Controladas por fundos de Private Equity, Kroton e Estácio, através de agressivas aquisições e competente administração, apresentaram enorme crescimento.

As duas empresas tentaram um processo de fusão, mas foi barrado pelo CADE, em julho de 2017. Caso a fusão ocorresse, a nova companhia contaria com uma base de mais de 1 milhão de alunos de ensino superior.

O mercado de ensino superior, no entanto, encontra-se, de certa forma, consolidado. Segundo a CM Consultoria, as 10 maiores empresas dominam quase 50% do setor. Não obstante, estas empresas têm sido ameaçadas por mudanças regulatórias. Diante deste cenário, elas estão se voltando para o ensino básico.

O Marco Regulatório do EAD e o novo FIES são os dois fatores predominantes para a então mudança de foco das empresas do setor. O primeiro, aprovado em junho de 2017, passou a permitir a abertura de polos EAD sem que a Instituição de Ensino Superior ofereça cursos presencias, o que antes era condição obrigatória para abertura de polos EAD. Com esta alteração, esses polos locais podem ser abertos facilmente, ameaçando os polos das grandes companhias com concorrência de preço.

A outra mudança, o Novo FIES, muda drasticamente sua política de financiamento, o qual não favorece as grandes empresas de ensino superior. As 300 mil vagas a serem oferecidas pelo FIES em 2018 estarão segregadas em três moldes. As divergências com o modelo atual são mais significativas nos FIES 2 e FIES 3, que serão administrados pelos bancos responsáveis, tendo esses a liberdade de definir a taxa de juro cobrada do aluno. Além disso, a forma de pagamento também mudará, com parcelas descontadas automaticamente do salário após a formação do contratante do FIES. Especialistas afirmam que tal forma de pagamento é mais vulnerável à inadimplência.

Dado este panorama, as grandes empresas educacionais estão voltando suas atenções para o ensino básico, segmento que possui dados bastante animadores. Segundo o INEP, mais de 1 milhão de alunos do ensino básico se matricularam em escolas privadas em 2016, número bem inferior se comparado aos 50 milhões de matrículas efetuadas no mesmo ano, referentes ao total de alunos do ensino básico brasileiro.

Além do segmento apresentar números tão elevados quanto aos do ensino superior, em termos de alunos, o ensino básico é extremamente pulverizado. Em outras palavras, não há uma companhia que tenha controle significativo do segmento, visto que as 5 maiores empresas controlam menos de 5% do segmento. Como afirma Rodrigo Galindo, CEO da Kroton, “o setor é gigantesco e absurdamente pulverizado, sem ainda um consolidador claro”.

Não obstante, as características fundamentais do ensino básico são mais favoráveis, pois o vínculo com o aluno se estende por 12 anos – do primeiro ano do ensino fundamental à terceira série do ensino médio, com evasão muito menor, pois os pais têm a educação básica do filho como prioridade.

As gigantes do ensino superior começaram, logo, a se movimentar em direção ao ensino básico, a fim de diminuir seus riscos com operações apenas em segmentos onde já atuam e enxergando um mercado promissor. A Kroton, por exemplo, está negociando aquisições de ativos da Somos SA – proprietária do sistema de ensino Anglo –, se apresentando como um futuro consolidador do segmento. A Estácio já começará a oferecer ensino médio e técnico em 2018.

A corrida pela consolidação do segmento do ensino básico, portanto, começou, sem apresentar um competidor favorito. Cabe aos investidores, então, apostar nos seus cavalos e, à população, esperar que a concorrência entre as grandes possa trazer à tona uma educação de melhor qualidade.


Artigo publicado em dezembro/2017 na 19ª edição da Markets St.


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