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A criação de gigantes: como o Bradesco tenta competir com o Itaú


Após a fusão entre Itaú e Unibanco, criando a holding Itaú Unibanco S.A., em 2008, o Bradesco resolveu finalmente seguir seu principal rival no mercado financeiro e comprou 100% das operações do HSBC Brasil, por R$ 17,6 bilhões.

Contextualizando o momento Bradesco

O Banco Bradesco S.A. (“Bradesco”) concluiu a aquisição de 100% do capital social do HSBC Bank Brasil S.A. – Banco Múltiplo e HSBC Serviços e Participações Ltda. (juntos formam o “HSBC Brasil”), no dia 01 de julho de 2016, por R$ 16 bilhões. Com isso, analisando tabela divulgada pelo banco, o Bradesco terá seus ativos acrescidos em R$ 175 bilhões, totalizando em ativos R$ 1,276 trilhão (uma evolução de 15,9%), se aproximando de seu maior concorrente o Itaú, que em março de 2016 apresentou R$ 1,203 trilhão. Além disso o número de agências totais terá um aumento de 12,7%, totalizando 5.360, e sua carteira de crédito um aumento de 15,4%, fechando em R$ 534,5 bilhões, assim o Bradesco passou a ter a maior folha salarial do setor, com mais de 115 mil empregados e cerca de 500 agências a mais que Itaú Unibanco, de acordo com a Reuters, assumindo todas as operações do HSBC Brasil, incluindo varejo, seguros e administração de ativos, assim como todas as agências e clientes.

A aquisição é a maior já realizada pelo Bradesco, entretanto é necessário destacar que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) aprovou no dia 08 de junho a compra das operações do HSBC Brasil com restrições. Ficou condicionado então, a partir de um Acordo em Controle de Concentrações (ACC) entre o Bradesco e o Cade, que o banco deverá implementar algumas medidas, como incentivos à portabilidade de crédito. Entre essas medidas que o Bradesco terá que adotar está a responsabilidade de estimular os clientes atuais do HSBC a transferir operações de crédito (como empréstimos pessoais) para outros bancos que não sejam Banco do Brasil, Caixa, Itaú e o próprio Bradesco.

A recente aquisição do HSBC Brasil pelo Bradesco é exemplo da consolidação do setor bancário que está acontecendo ao longo dos anos. Não apenas os bancos brasileiros realizaram fusões e aquisições para se consolidarem no mercado, mas também bancos estrangeiros realizaram operações para aumentar de tamanho, como a aquisição da Hedging-Griffo, em 2006, pelo Credit Suisse. Esses eventos estão relacionados às disputas no setor de “private banking” que passa por grandes mudanças atualmente devido, principalmente, à introdução das “fintechs” (startups que usam tecnologia para aumentar a eficiência dos serviços financeiros prestados), que começam a oferecer serviços típicos de wealth management, mirando clientes com grande patrimônio.

A comparação entre Itaú Unibanco e Bradesco após a aquisição

Em 2008, a fusão entre Itaú e Unibanco criou o maior conglomerado financeiro do hemisfério sul, líder do mercado brasileiro em termos de ativos, crédito e patrimônio líquido. As operações do Unibanco complementaram as do Itaú, reforçando o posicionamento deste último em diversos segmentos, como cartão de crédito e seguros, além de diversificar e pulverizar a carteira de crédito do banco. Além disso, o tamanho e a escala da operação geraram ganhos de sinergia tanto do lado dos custos como das receitas e permitiu ao banco alcançar porte de instituição internacional, preparando-o para enfrentar o ambiente competitivo globalizado. Embora o desempenho do Itaú fosse maior do que o Unibanco, a junção das duas empresas proporcionou uma participação de mercado de 20% do setor bancário do Brasil, na época, onde os ativos da holding giravam em torno de R$ 571,1 bilhões, além de um aumento no número de agências, totalizando 4.800 unidades, que correspondia a 18% do mercado, resultando em um patrimônio líquido de R$ 51,7 bilhões. Superando, assim, o Bradesco, que na época possuía maior número de ativos que apenas o Itaú (antes da fusão), e permitindo o crescimento do banco internacionalmente.

É interessante notar que a conjuntura econômica brasileira na época era parecida com a atual. Em 2008 havia uma crise internacional que afetou o mercado financeiro principalmente dos Estados Unidos. Mesmo assim a holding Itaú Unibanco obteve aumentos muito maiores do seu lucro líquido após a fusão. Somado a isso, as iniciativas tomadas pelos gestores de Itaú e Bradesco estão muito parecidas. O Bradesco, assim como o Itaú na época, permitirá que seus 30,6 milhões de correntistas continuem realizando normalmente os serviços em seus bancos. Além disso, inicialmente os caixas eletrônicos serão compartilhados e todas as agências permaneceram abertas. A melhor parte da aquisição é a diversificação do portfólio de serviços, permitindo ao Bradesco expandir suas operações, com a melhora nas oportunidades e aumento da gama e do diferencial dos produtos oferecidos no Brasil, especialmente no mercado de seguros, cartão de crédito e administração de fundos (asset management).

Por fim, a aquisição parece ser ótima para o Bradesco que adquiriu também a plataforma de atacado, que inclui a área de corporate sales (derivativos e câmbio). De acordo com o banco, toda a unidade gera receitas anuais de R$ 1 bilhão que somarão as receitas geradas pelas áreas do Bradesco. Em última análise, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) parece preocupada com a aquisição e com o aumento da concentração bancária no país. Segundo dados do Contraf, a fusão do Itaú com o Unibanco resultou no fechamento de mais de 15 mil pontos de trabalho no país desde 2008, enquanto a compra do Banco Real pelo Santander teria provocado desde 2007 o corte de 2.969 trabalhadores, o que mostra que historicamente as fusões, aliadas aos avanços tecnológicos utilizados para dinamizar e expandir os negócios, acabam gerando desemprego. Entretanto, o Bradesco nega fechamento dos postos de trabalho após a aquisição.


Artigo publicado em setembro/2016 na 14ª edição da Markets St.


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