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O que significa a saída do acordo nuclear do Irã pelos EUA?


Os Estados Unidos saíram do acordo nuclear do Irã no dia 08/05/2018. Mas por que sair de um acordo que previa a manutenção da produção de urânio enriquecido iraniano dentro de estreitos limites (a fim de não permitir que o país produzisse armamentos nucleares)? E mais importante, como isso pode impactar a vida do cidadão comum, sobretudo dos brasileiros? Entender o contexto desse tema sensível é fundamental. Por isso, nos atentemos inicialmente à primeira pergunta.

Em sua declaração oficial, o presidente norte-americano Donald Trump alegou que tomou tal medida pois, entre outros pontos, o acordo não contemplava o programa de mísseis balísticos do Irã, e nem a intervenção do país persa nas guerras da Síria e do Iêmen. Além disso, o pacto previa também que o Irã mantivesse suas instalações nucleares, dando margem para, no futuro, desenvolver armamentos nucleares. Nas palavras de Trump: “Não podemos impedir a construção de uma bomba nuclear iraniana com a estrutura apodrecida do acordo atual”.

Analisando a atitude extraoficialmente, a situação se torna mais complexa, pois entre os signatários do acordo estão Irã, França, Alemanha, China, Rússia e Reino Unido. Nesse sentido, a atitude de Trump causa, sem nenhuma dúvida, uma forte tensão no tecido diplomático dos EUA com as principais potências mundiais. Os atuais signatários já se pronunciaram e afirmaram continuar no acordo, além de lamentarem a saída dos Estados Unidos. A situação se torna mais crítica ainda quando analisamos a retomada das sanções dos EUA sobre o Irã. Empresas francesas que estejam operando no Irã, por exemplo, podem se ver obrigadas a escolher entre o mercado norte-americano e o mercado iraniano - e sabemos quem venceria essa disputa. Isso faz com que a situação diplomática seja ainda mais preocupante, uma vez que os governos signatários do acordo muito provavelmente reagirão a essa pressão sobre as suas empresas nacionais, com foco para China e Rússia, que possuem elevados investimentos no Irã. Além disso, as sanções dos norte-americanos sobre o Irã incentivam o país a desenvolver ainda mais seu projeto nuclear, de forma a contrariar a intenção de Donald Trump - que nem sequer ofereceu um novo acordo aos iranianos -, e intensificar ainda mais as tensões no Oriente Médio, potencializando os conflitos árabes-israelenses.

Dado o complexo contexto geopolítico, voltemos nossa atenção à segunda pergunta: como isso afeta a vida do cidadão brasileiro? Sabemos que a maior potência econômica global acaba interferindo - e muito - na dinâmica mundial. Isso é fato. No entanto, nos parece contraintuitivo, como cidadãos comuns, pensar que as atitudes tomadas por um presidente no outro hemisfério do mundo possam afetar nossas vidas. Dessa forma, foquemos na situação descrita até aqui e procuremos entender como isso nos impacta.

A palavra-chave aqui é petróleo. As sanções dos EUA ao Irã impulsionaram uma alta expressiva no preço do petróleo. Lembremos que o Irã é um importante player no mercado extrativo petrolífero. No dia seguinte à decisão de Trump, a commodity atingiu seu valor mais alto desde novembro de 2014. Agora, se aliarmos o fato de a gigante estatal brasileira responsável pela produção petrolífera nacional (Petrobras) ser tomadora de preços no mercado internacional, com o fato da estrutura logística brasileira ser baseada sobretudo em combustíveis derivados do petróleo (com o predomínio da malha rodoviária), chegamos à nossa resposta e à inevitável conclusão: muito provavelmente, a saída dos EUA do acordo com o Irã impulsionará tanto os preços da gasolina nos postos quanto os preços dos bens de consumo dos brasileiros. Isso pois, uma vez que os custos logísticos das empresas aumentarão, seguindo a linha de raciocínio desenvolvida até aqui, essas, inseridas na cadeia produtiva, repassarão esse aumento de custos aos consumidores, a fim de manter seus lucros constantes.

Dessa forma, por mais que decisões políticas longínquas pareçam não afetar nossas vidas diretamente, sabemos que isso ocorre com frequência, em diferentes níveis de intensidade. No caso aqui analisado, vimos que a decisão de Trump muito provavelmente fará com que a cesta de consumo do brasileiro se torne mais cara, diminuindo o poder de compra do mesmo. De fato, os principais estudos dos analistas e especialistas políticos apontam nessa direção, com o mercado também sinalizando que isso ocorrerá, dada a expressiva elevação no preço das ações da Petrobras, que se iniciou com a saída dos EUA do acordo.


Caso tenha se interessado, confira a lista de textos que disponibilizamos para o aprofundamento no assunto. Acompanhe também nossa página, facebook.com/ligademercadofeausp, e fique por dentro de nossas postagens semanais!

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/05/08/o-que-acontece-com-a-saida-dos-eua-do-acordo-nuclear-com-o-ira.htm

https://g1.globo.com/economia/noticia/ofensiva-de-trump-contra-ira-leva-preco-do-petroleo-as-alturas-e-isso-afetara-o-bolso-dos-brasileiros.ghtml

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/ao-sair-de-acordo-com-o-ira-trump-rompe-com-a-europa.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/saida-dos-eua-de-acordo-com-ira-aproxima-russia-e-europa-diz-especialista.shtml

https://www.cartacapital.com.br/internacional/trump-anuncia-saida-dos-eua-de-acordo-nuclear-com-ira

http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,the-economist-fim-do-acordo-nuclear-com-ira-nao-e-bom-para-ninguem

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