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Vantagem Comparativa: a ideia de 200 anos a favor do livre comércio e da especialização


Após anos,o debate sobre a abertura das fronteiras comerciais volta à tona. Apesar das políticas desenvolvimentistas* dos últimos anos e de candidatos que defendem sua continuidade – como, claro,Trump -, vemos no país muitos falando sobre abertura comercial e especialização da produção para o aumento do bem-estar econômico. Mas,afinal, como as chamadas vantagens comparativas podem corroborar tal tese?

A ideia de vantagem comparativa surgiu com David Ricardo, um dos grandes clássicos da economia, há mais de 200 anos. Seu pressuposto é de que a especialização e a troca internacional permitem o aumento da renda geral dos países. Até então, predominava a ideia de vantagem absoluta: os países devem produzir aquilo que produzem melhor - o que faz sentido na ausência do conceito de custo de oportunidade da produção (aquilo que se deixa de ganhar escolhendo produzir certo produto A em vez de B). Com o princípio da vantagem comparativa, podemos ilustrar como um país pode se beneficiar do comércio internacional e da especialização:

Seguindo com um exemplo do próprio Ricardo, vamos supor que só existem dois países, Inglaterra e Portugal, e estes somente produzem roupas e vinhos.

Analisando o quadro, vemos que Portugal possui vantagem absoluta na produção tanto do vinho como de roupa: menos horas para fazer uma unidade de cada produto.


Sem especialização e sem comércio: Portugal terá, com 170 horas, uma unidade de roupa e de vinho. Já a Inglaterra terá o mesmo com 220 horas de trabalho.

Com especialização e sem comércio: Havendo especialização naquilo em que há maior vantagem comparativa (e, assim, menor custo de oportunidade), Portugal poderá produzir 2,125 unidades de vinho, enquanto Inglaterra produzirá 2,2 unidades de roupa! Mas isso não é nada se não houver comércio entre os dois países, visto que faltará roupas para um e vinhos para outro.

Com especialização e com comércio: Veja, cada roupa deverá ser trocada por mais que ⅚ unidade de vinho, porque é o mínimo para que valha a pena, para a Inglaterra, não alocar suas horas de trabalho na produção de vinho. No entanto, cada roupa deverá também ser trocada por menos que 9/8 unidades de vinho, para que seja preferível que Portugal só produza o vinho. Vamos supor um termo de troca (como é chamado) de um vinho por uma unidade de roupa: com a troca, Portugal terá 1,125 unidades de vinho e 1 unidade de roupa. Por sua vez, a Inglaterra terá 1,2 unidades de roupas e 1 unidade de vinho. A especialização e troca tornam-se vantajosa para ambas, visto que possuem mais unidades com as mesmas horas de trabalho!

É claro que, como tudo na economia, as coisas não são tão simples assim. Existem diversos países e diversos agentes na produção, nem sempre há pleno emprego e não é tão fácil realocar as pessoas para outros setores da economia como no exemplo. Muitos discordam e dizem ser mais uma de economistas liberais procurando aumentar a desigualdade entre países. A verdade é que o debate persiste de ambos os lados enquanto a ideia existir. No entanto, é preciso lembrar também que a economia é descrita e baseada em modelos simplificados, que buscam verdades em torno de uma tempestade de possibilidades.Válida ou não, a antiga ideia de Ricardo não deixa de ser uma abstração valiosa para que reflitamos sobre nossa especialização naquilo que fazemos melhor, bem como sobre os ganhos com o comércio junto aos demais países. Válida ou não, a antiga ideia pode levar a um novo rumo da atrasada economia brasileira.


*Desenvolvimentismo é um tipo de política econômica que promove a industrialização do país via incentivo e investimento do Estado e a restrição de importações, utilizada por Getúlio Vargas e incentivada pelo conhecido economista brasileiro Celso Furtado. Este conta também com a participação nacional em várias etapas do processo produtivo de certo bem.

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