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Turbi: percorrendo a próxima milha em termos de mobilidade urbana no Brasil



Provinda do inglês, a expressão “going the next mile” (percorrer a próxima milha, em tradução livre) significa inovar, percorrer caminhos ainda não traçados, reinventar. Em um cenário em que a mobilidade urbana ainda é altamente dependente dos automóveis (mais da metade da frota brasileira é composta por carros, segundo o IBGE), a chegada de aplicativos como a Uber e a 99 no Brasil, há quase oito anos, buscou suprir a necessidade de promover o acesso ao transporte particular e acessível no país. Contudo, mesmo em meio a agitações como problemas na cadeia de suprimentos automobilísticos e aumentos sucessivos nos preços do barril de petróleo, uma nova modalidade de carsharing parece tomar fôlego: o aluguel de carros por hora. Nessa esteira, startups como a Turbi, objeto deste pocket research, busca cruzar milhas ainda não alcançadas pelos aplicativos tradicionais, servindo como um intermédio entre estes e as tradicionais locadoras de veículos.


Em um cenário em que a mobilidade urbana ainda é altamente dependente dos automóveis - mais da metade da frota brasileira é composta por carros, segundo o IBGE - a chegada de aplicativos como a Uber e a 99 no Brasil, há quase oito anos, buscou suprir a necessidade por meios de transportes particulares e acessíveis no país. Contudo, mesmo em meio a agitações, como problemas na cadeia de suprimentos automobilísticos e aumentos sucessivos nos preços do barril de petróleo, uma nova modalidade de carsharing parece tomar fôlego: o aluguel de carros por hora. Nessa esteira, startups como a Turbi, objeto desse Pocket Research, busca cruzar milhar ainda não alcançadas pelos aplicativos tradicionais, servindo como um intermédio entre esses e as tradicionais locadoras de veículos


A Turbi é uma startup que surgiu em 2017 e hoje já é o maior carsharing da América Latina. No início, a empresa operava com apenas três modelos de carros na cidade de São Paulo. Atualmente, ela possui uma frota de mais de 2.000 veículos de doze modelos diferentes, os quais circulam pela região metropolitana paulista, e seu diferencial encontra-se na locação de veículos feita de forma totalmente digital pelo celular.


Ainda, a locação funciona de modo peculiar, pois o carro é cobrado pela hora de uso - não pelo dia - e há cobrança de taxa extra para cada quilômetro rodado. Após o cadastro via aplicativo, o carro não é alugado de imediato, sendo necessário passar pelo período de aprovação do usuário e pela realização de um depósito caução como seguro. Entretanto, a burocracia essencial a esse tipo de serviço foi drasticamente reduzida, sendo esse um triunfo da Turbi. Ademais, após testarmos o aplicativo, percebemos a dinamicidade e intuitividade da interface e, apesar da demora para aprovação do cadastro - até sete dias úteis - o processo posterior a essa fase é muito rápido.


Dado que a empresa já está no mercado há alguns anos, muitos dos seus processos já foram automatizados para o modelo digital: disponibilização de um cartão em cada carro para reabastecimento, permanência da chave no porta-luvas e exigência de questionário acerca de danos identificados no carro, a fim de que este não seja indevidamente penalizado.


No que tange à funcionalidade do aplicativo, o mais interessante é o modelo de alocação: os veículos ficam bem espalhados em estacionamentos pela região e o usuário escolhe qual carro deseja e qual o ponto de encontro, podendo destravar o carro pelo próprio aplicativo da Turbi, devendo, entretanto, devolvê-lo ao mesmo local. Este modelo, conhecido como “round trip”, pode não ser tão interessante para o usuário, mas garante a locação controlada da frota (logística) e manutenção dos custos de serviço.


Ainda nessa esteira, por ser uma startup de tecnologia, é natural que surjam dúvidas sobre a viabilidade do seu business model - afinal, ainda não existe um concorrente direto da empresa no Brasil. Contudo, os cases da russa Delimobil e da estadunidense ZipCar oferecem um proof of concept de que esse modelo pode funcionar por aqui. Fundada por estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a ZipCar oferece, desde 2000, aluguéis mediante frações de hora, horas ou diárias. Desde então, abriu capital na Nasdaq em 2011, tornou-se subsidiária da Avis Budget Group em 2013 - em uma transação de 500 milhões de dólares - e hoje está presente em 9 países. Assim, caso a Turbi consiga seguir a performance de sucesso de sua peer americana e de outros cases de sucesso globais, ela deve passar a ser alvo de venture capitalists, fundos de private equity e investidores estratégicos, os quais poderão traçar estratégias como integração a outros aplicativos de transporte (criando um ecossistema de mobilidade) e até mesmo uma saída por IPO em um cenário mais ambicioso.


Contudo, apesar de o case de sucesso da ZipCar oferecer boas perspectivas no que tange à sustentabilidade do modelo de negócios da Turbi, não se deve negligenciar os riscos inerentes a essa tese, ligados sobretudo ao cenário macroeconômico e a concorrências indiretas que podem canibalizar o espaço de atuação da startup e minar seu poder de barganha. Em primeira instância, não se nega que o gargalo no suprimento de veículos enfrentado há quase dois anos afeta o business; em razão da escassez de insumos como resinas, aço e semicondutores, a cadeia produtiva automobilística global tem perdido eficiência, o que causou atraso na entrega de veículos encomendados pela startup no último ano. Ainda, a escalada forte no preço de commodities como o petróleo cria uma preocupação a mais para a companhia: com o aumento do preço da gasolina, a Turbi ganha clientes (devido à retração no número de viagens mediante o Uber por exemplo), mas perde em eficiência, ao pressionar seu caixa com gastos operacionais não repassados ao usuário. Já em termos de vantagem competitiva, não se pode negar a possibilidade de locadoras de veículo maiores, como a Localiza, realizarem empreitadas semelhantes à da Turbi, instalando postos em centros urbanos e replicando o modelo da startup. Evidentemente, isso traz o ônus de replicar um sistema logístico e uma solução tecnológica que funcione para tal propósito, mas não se pode negar que o market size dessas grandes locadoras tornaria possível maior poder de barganha no suprimento de automóveis e ganho de eficiência operacional.


Em meio a esses riscos que podem afetar o modelo de negócios, um tema em específico coloca-se como uma via de mão dupla no que tange à proposta da empresa, ao servir, paradoxalmente, como um driver de crescimento e um risco simultaneamente: a mobilidade em São Paulo, um assunto que recebe grande atenção e que, recorrentemente, é tema de discussão. Nesse pocket research, buscamos nos ater aos principais pontos que tangem ao case da Turbie e que corroboram para a análise de sua perspectiva de crescimento.


Não somente a falta de estrutura e o planejamento das vias públicas, como a capilaridade e extensão da malha de trem e metrô da cidade afetam demasiadamente a circulação pela região, o que incentiva um mercado alternativo de serviços privados - sem contar o subdesenvolvimento de outras capitais e metrópoles brasileiras. Com a empreitada de empresas como Yellow, Tembici, Uber, 99 e muitas outras, a Turbi surge também como uma solução viável.


A Uber e a 99 conquistaram um market share imensurável e em grandes centros urbanos sua demanda é maior ainda. Entretanto, o que vem sendo observado é a crescente quantidade de reclamações e a insatisfação dos clientes com essas plataformas. Com a flexibilização da pandemia, que acarretou no aumento da demanda por transportes por aplicativo - que garantem maior segurança e evitam contato humano - e o aumento do preço dos combustíveis, um problema crescente para esse setor vem sendo ainda mais fragilizado pelo cancelamento excessivo de viagens por parte dos motoristas. Nesse sentido, a Turbi segue em direção oposta a essas plataformas, remediando os gargalos de seus peers no setor.


A exemplo, em junho de 2021, a startup passou a oferecer o aluguel mensal, decisão pontual em meio a uma alta exponencial para a aquisição de novos veículos e da falta de peças e insumos nacionalmente. Além deste, há uma demanda recorrente de motoristas que não desejam ter custos fixos e de manutenção, que são vistos como custos que deveriam ser vinculados à frequência de uso, e não mais a uma necessidade de posse, sequelas agravadas pela pandemia; e o “carro por assinatura”, oferecido pela Turbi, vem para solucionar este problema.


Mesmo os meios alternativos, como bicicleta, patinete, metrô e ônibus, enfrentam desafios singulares em uma cidade com pouca infraestrutura e capilaridade - ciclovias com pouca extensão, concentradas apenas nas principais avenidas e bairros; despreparo e desorganização das frotas de ônibus para atendimento à demanda populacional; etc -, que corroboram a preferência, daqueles que podem, pelo transporte particular.


Em meio ao crescimento desses meios e surgimento de novos modelos de transporte, a Turbi propõe a remediação para alguns dos conflitos expostos. Com o forte posicionamento da Uber e da 99, muitos passaram a aderir aos serviços de compartilhamento. Segundo a própria startup, o carro transita do conceito de ‘bem material’ para ‘serviço’, afirmação sustentada por 74% dos pesquisados, que consideram não apenas a otimização de custos, como também a sustentabilidade. Nesse sentido, um dos maiores drivers do setor - e da própria Turbi - é a formação de uma geração do pós-consumidor, que ainda busca se definir e vem absorvendo a cultura de economia compartilhada.


Tendo em perspectiva a definição deste pós-consumidor e que, em grande parte, a concorrência indireta da startup é composta por locadoras tradicionais, a Turbi consegue manter um diferencial do mercado com uma solução eficaz para um serviço rudimentar. Sua proposta parte da vontade de melhoria contínua do produto, pautada na dinamização por meio da tecnologia e de dados, dando fim à papelada e às filas, características de locadoras.

Os anos de 2020 e 2021 serviram como prova disso: a Turbi foi eleita, em ambos os anos, uma das startups mais promissoras do Brasil, com um faturamento médio de R$ 22 milhões em 2020 e R$ 50 milhões em 2021, aumento significativo de quase 125%, sem considerar o rápido crescimento em comparação aos anos anteriores - em 2019, seu faturamento foi de R$ 4 milhões.


Em relação ao seu futuro no mercado brasileiro, tendo em vista o cenário de mobilidade urbana, tanto na capital paulista quanto no território nacional, a Turbi tem planos de investimento para expandir sua área de atuação, com mais veículos e em mais locais, com foco em grandes cidades e metrópoles. Tomando como base sua evolução de receita nos últimos anos, tal progressão mostra-se realista quando analisamos alguns fatores históricos:o crescimento de sua frota desde 2019 (que quadruplicou), os novos downloads do aplicativo e a quantidade de viagens realizadas, que alcançou 500 mil em 2021.


Em relação à expansão geográfica, o ano de 2021 representou uma forma de a empresa repensar seus planos de ocupação do espaço urbano. Ao invés de iniciarem suas atividades em outras capitais, como Porto Alegre e Belo Horizonte, a Turbi passou a focar nas áreas conurbadas da região metropolitana de São Paulo a fim de poupar eventuais dificuldades logísticas e de rever processos antes de enfrentar as barreiras de entrada das demais capitais. Contudo, com a possibilidade de uma nova rodada de investimentos e a expectativa de normalização da pandemia, a expansão extraestadual volta a ser uma possibilidade.


Por fim, mesmo em meio às tribulações que cercam o tema da mobilidade urbana, a Turbi se posiciona no mercado de forma ousada ao tentar aproveitar a onipresença das autovias urbanas enquanto enfrenta as dificuldades logístico-operacionais inerentes aos automóveis. Contudo, ao aproveitar o gargalo causado pelos aplicativos de mobilidade e inspirar-se em cases de sucesso no exterior, a empresa parece, até o momento, ter conseguido agilizar seus processos e expandir seu portfólio de clientes. Assim, por mais que os riscos do negócio sejam expressivos, não se deve esquecer que tais ameaças são iminentes a empresas de growth - estágio em que a startup se encontra. Resta então uma pergunta: Será possível a Turbi engrenar sua expansão e tornar sua logística mais eficiente a fim de percorrer uma milha extra na democratização da mobilidade em São Paulo e no país?



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