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Plásticos: características e projeções da indústria brasileira



Empregando quase 350 mil trabalhadores em 2022 e consumindo 7,1 milhões de toneladas, o ramo de transformados plásticos está entre os dez setores que mais empregam na indústria de transformação no país. Com o constante crescimento da indústria de plástico no Brasil ao longo dos anos – gerando, em 2021, um faturamento de R$127,4 bilhões, segundo a ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) – percebe-se o quão importante é o setor para a indústria brasileira.


Dada a importância do ramo no mercado nacional, é notório que as firmas busquem cada vez mais produtividade. Alfredo Schnabel Fuentes, managing director da Arburg no Brasil, comentou numa entrevista à Plástico Brasil, porém, que no país falta investimento em automatização e digitalização. Mas por que isso ocorre? Schnabel comenta que o fato de haver muitas máquinas acima de 15 anos de uso, além do fato que as fábricas brasileiras estão longe, com raras exceções, do ideal visto em economias mais competitivas. Tais cenários, consequentemente, dificultam ainda mais uma expansão maior do crescimento do setor em solo brasileiro.

Reciclagem, o futuro do setor?


À medida que o plástico se torna cada vez mais frequente no dia a dia da população brasileira, surgem muitos questionamentos socioambientais sobre sua utilização e descarte. A reciclagem desses materiais se torna cada vez mais importante ao longo dos anos, tanto pelo apelo social para que assim seja, tanto por leis e acordos ambientais que vêm sendo firmados ao passar do tempo.


O ramo da reciclagem de plásticos cresce globalmente, como visto previamente. Entre 2010 e 2021, por exemplo, o setor apresentou um aumento de mais de 72% no número de empresas e movimentou R$4 bilhões em 2021. Os principais materiais reciclados foram o PET, representando 41% do volume da produção de resina pós-consumo reciclada, e as commodities polietileno e polipropileno que, juntas, somam 52% do volume produzido. PE e PP também figuram como as resinas mais utilizadas no Brasil, representando mais da metade do uso total de resinas plásticas no país. Ademais, com grandes empresas do setor, como a ValGroup, estipulando metas audaciosas de reciclar até 100% do volume produzido, espera-se que esses números cresçam ainda mais nos próximos anos.

Num processo produtivo, entretanto, o uso de materiais recicláveis, comumente chamados de “moídos”, pode desencadear instabilidades na produção, uma vez que tal matéria prima muitas vezes não apresenta valores exatos e confiáveis de viscosidade, temperatura de fusão, densidade e uniformidade no tamanho dos grãos. Não operar com material virgem num processo já instável gerará, frequentemente, diversos defeitos nos produtos finais, tanto na aparência – rebarbas, manchas, bolhas, queimas – quanto em detalhes técnicos em peças mais complexas, como deformação, variação de peso, resistência à tração e ao impacto, elasticidade à tração, resistência química e dureza.


O uso de materiais reciclados, entretanto, é amplamente sugerível em produtos que não demandam especificidades técnicas muito rigorosas. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, hoje, 36% de todo plástico produzido no mundo é utilizado em embalagens e rapidamente descartados; a utilização de reciclados para cobrir tal produção é algo que pode e deve ser alinhada a implementação de tecnologia na indústria brasileira para torná-la competitiva até em níveis internacionais.


Como está a indústria brasileira?


Com mais de onze mil empresas no país, o setor de transformados plásticos brasileiro, em 2021, empregou mais de trezentas mil pessoas, produziu mais de sete milhões de toneladas e faturou mais de R$120 bilhões.

Sendo a quarta maior do país, a indústria de plástico brasileira é composta por mais de 70% de micro e pequenas empresas. A grande maioria delas, como destacado anteriormente, carece de tecnologia e investimentos que as integre num modelo de produção mais eficiente e automatizado. Consequentemente, o atraso da tecnologia empregada nas firmas brasileiras limita que as mesmas só se tornem competitivas num mercado de produtos mais simples, como sacolas de supermercado, e peças simples, onde ofertar um preço baixo é crucial para sua sobrevivência.


Como ser competitivo e entrar na competição internacional?


Uma forma de estabilizar um processo com diversas variáveis, como o material reciclado, é o da automação. Entretanto, como visto anteriormente, a maioria das máquinas do Brasil não está preparada para receber tais tecnologias. Um processo de retrofitting que permita a comunicação máquina-robô atrelado com a implementação de um sistema de operações lógicas possibilitaria até mesmo as fábricas de pequeno porte aumentarem sua competitividade e adquirir caráter competitivo internacional.

Comparações com outros países


O número de importações (U$3,7 bilhões) de transformados plásticos no Brasil supera em quase 200% o número de exportações (U$1,3 bilhões). Isso ocorre porque a maioria das peças plásticas importadas são de alta complexidade técnica e incapazes de serem produzidas em grande escala no país. Os principais exportadores para o Brasil são China, Estados Unidos e Alemanha, países que investem anualmente em tecnologia e automação.


Quando comparado com o México, país com uma economia semelhante à brasileira, o Brasil tem menos de um terço de robôs em operação (a cada 10 mil trabalhadores), acabando com um déficit em suas exportações líquidas com o México. Já ao comparar o nível de automação com a referência europeia, Alemanha, o desempenho brasileiro fica ainda pior, com um robô para trinta e um alemães.


Por apresentar um grande número de micro e pequenas empresas em operação, é possível aspirar a realidade de Israel e da Itália, embora haja, ainda, um enorme caminho a percorrer para alcançá-las. O pequeno país do Levante apresenta uma alta capacidade de tornar suas micro, pequenas e médias firmas – que representam 99,5% das empresas israelenses – competitivas num cenário global. Na Itália, por sua vez, as SMEs empregam mais de 80% da população e geram mais da metade (53%) das exportações do país, número maior que de outros países da União Europeia, como Alemanha e França (25%); ambos também apresentam uma taxa de automação maior que a brasileira.

O que esperar do setor?


Como apresentado anteriormente, o setor de plástico vem crescendo no Brasil. Há ainda, porém, um grande caminho para percorrer, visto que a grande maioria das fábricas brasileiras não conseguem competir internacionalmente, fazendo com que o país precise importar grande parte da demanda por peças complexas que raramente são produzidas em solo nacional. Há também uma grande valorização e cobrança global pela reciclagem, com o número de firmas e o faturamento do setor aumentando. O Brasil é hoje o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo.


Tornar possível uma indústria brasileira verticalizada que consegue produzir e reciclar suas próprias peças plásticas geraria, então, benefícios para diversas outras áreas do país, uma vez que tais setores dependem de materiais e produtos plásticos na sua cadeia de produção, principalmente os ramos da construção civil e de alimentos. A dependência desses setores por transformados plásticos, alinhada à uma sociedade que valoriza cada vez mais o meio-ambiente – e que, consequentemente, forma arquitetos, engenheiros e consumidores que pesam tais atributos –, indica o potencial desenvolvimento deste ramo no país que, se bem planejado, pode potencializar a operação socioeconômica geral brasileira ao produzir matéria-prima, peças e embalagens mais baratas e sustentáveis.


O desenvolvimento nacional do setor de transformados plásticos pode gerar, portanto, um grande crescimento econômico nacional. Com a verticalização do setor no Brasil, muitas firmas conseguirão ter margens operacionais melhores, uma vez que o custo da matéria-prima – que subiu muito com a alta do dólar – poderá cair novamente para patamares pré-pandêmicos. Além disso, com os produtos nacionais sendo menos taxados que os importados, as margens líquidas também tendem a subir. Assim, é possível que o investimento na automação das pequenas empresas, junto de uma verticalização do setor no Brasil, englobando a reciclagem, potencialize a indústria nacional e diminua a dependência do país na importação de tais produtos.


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