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A leitura dos indicadores macroeconômicos nos diferentes ciclos da economia

Em análises fundamentalistas do tipo top-down, o estudo de um negócio se inicia pela análise macroeconômica. Nesse texto iremos abordar alguns dos indicadores utilizados na macroeconomia e o que cada número representa nos diferentes ciclos econômico. Antes disso, retomaremos o entendimento do que é macroeconomia.

Bom, a macroeconomia é um campo bem amplo. Dentre as suas inúmeras atribuições, ele tenta compreender as relações de causalidade e consequência de flutuações de curto prazo na conjuntura econômica nacional e portanto está diretamente ligada ao ciclo econômico de um país. Ainda assim, busca entender fatores que possam determinar o crescimento econômico no longo prazo ou o aumento da capacidade de gerar riquezas pelo país em um espaço de tempo de mais representativo.


Agora, podemos nos voltar aos indicadores. Cada um deles representa uma das variáveis que compõem o estudo macroeconômico. Dentre elas, destacaremos a taxa básica de juros, a taxa de inflação, a taxa de desemprego, o índice de confiança do consumidor, o PIB e o CDS, muito relevante para investidores estrangeiros.


Taxa básica de juros

Começaremos pela taxa básica de juros, no Brasil conhecida como Taxa Selic. Esta variável é utilizada para cobrança em empréstimos feitos à outras instituições financeiras, além de servir como referência para as demais taxas de juros cobradas no mercado em produtos como cartões de crédito, investimentos, financiamentos e cheques especiais. Outra grande importância da taxa é a relação com o comportamento de outros indicadores, como a taxa de inflação.


Atualmente a Taxa Selic está em 3,75%, mas o que esse número nos quer dizer?


Ao estabelecer uma taxa (meta de juros), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central busca evitar o excesso de dinheiro em circulação e, consequentemente, controlar a inflação.


O Brasil está passando por um período com o menor percentual de juros desde o início da série histórica, revelando que o Bacen está tentando guinar o país depois da crise ocorrida entre 2015 e 2016. Pela lógica da taxa de juros, uma Selic mais baixa gera uma tendência entre os consumidores de buscar por mais empréstimos e há maior atração para o consumo de crédito. As empresas são beneficiadas pois reduzirão seus endividamentos, aumentando a capacidade de desenvolvimento e crescimento.


No entanto, para investidores de produtos de renda fixa pós-fixada, como as LFTs, CDBs, LCIs e LCAs, o rendimento é reduzido, o que aumenta a procura por alternativas de renda variável como câmbio, ouro, ações ou imóveis. Na imagem acima representamos a dinâmica inversa das variações das curvas do Ibovespa, benchmark do mercado de ações brasileiras, e o IFIX, índice de fundos de investimentos imobiliários, frente às variações da Taxa Selic.


Taxa de Inflação


Você provavelmente sabe o que essa taxa significa: uma medida quantitativa da variação da média de preços de determinados produtos e serviços em um determinado período.


No Brasil, um índice comum é o IPCA, que tem o objetivo de medir a inflação no comércio varejista referente ao consumo de famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos. Acima, temos um exemplo de como a inflação afetou o preço do café ao longo do tempo nos EUA.


Em economias crescentes, empresas e consumidores passam a gastar mais dinheiro. Em um contexto em que a demanda extrapola a oferta, produtores podem começar a elevar os preços até o ponto de equilíbrio de demanda e oferta agregada. Como resultado observamos uma elevação dos preços. Quando uma economia cresce muito rapidamente ou tem a sua capacidade de produção prejudicada os preços sobem de maneira descontrolada, atingindo a hiperinflação. Temos como exemplos de processos inflacionários a transição da economia chinesa para uma abertura de mercado, com taxas de crescimento de cerca de 10% a.a., ou o caso atual da Venezuela, que enfrenta uma dura crise e encerrou o ano de 2019 com uma inflação de 9.585,5%.


A inflação representa ameaças aos investidores porque diminui a economia real e o retorno de investimentos. A maioria dos investidores visa aumentar seu poder de compra ao longo do tempo e elevadas taxas colocam esse objetivo em risco. Por exemplo, um investimento com rendimento de 2% antes da inflação (ou seja, um rendimento nominal de 2%) em um ambiente de 3% de inflação produzirá um retorno negativo -1% quando ajustado (ou seja, o rendimento real é de -1%).


Para se proteger contra a inflação, é importante que o portfólio seja diversificado e contenha ativos que tenham rendimentos corrigidos à inflação.


PIB

O produto interno bruto (PIB) é outro importantíssimo indicador da situação econômica de um país. Ao olhar o histórico, podemos calcular as taxas de crescimento real. Altas taxas de crescimento podem trazer maior confiança para investidores e empresários, pois demonstra elevação das atividades produtivas (bens e serviços) realizadas dentro do país. Apesar disso, analisar o PIB por si só pode trazer distorções porque não leva em conta o desenvolvimento da economia, distribuição de renda e nem qualidade de vida da população.


Acima temos as projeções que o IMF (International Monetary Fund) lançou em janeiro e abril de 2020, revelando os ajustes decorrentes dos efeitos da pandemia. Na primeira, porém podemos observar dinâmicas contrastantes, de um lado, projeções reduzidas de crescimento econômico dos Estados Unidos, do outro, altas taxas de crescimento do PIB para países em desenvolvimento na Ásia.


É possível perceber que o mercado emergente e os países em desenvolvimento crescem a um ritmo mais rápido do que o mundo desenvolvido desde os anos 90. A diferença nas taxas de crescimento começou a diminuir desde o final da Grande Recessão (2009). Em 2011, por exemplo, os países em desenvolvimento coletivamente registraram um crescimento do PIB de 6,2%, enquanto os países desenvolvidos cresceram apenas 1,7%. Já em 2019, o PIB coletivo dos países em desenvolvimento era de 3,7%, enquanto o PIB dos países desenvolvidos permanecia estável em 1,7%.


Por fim, a pandemia do Covid-19 abalou a economia global no início de 2020 e fez com que as perspectivas econômicas de países em desenvolvimento e desenvolvidos despencassem com taxas de crescimento negativas, originando recessões.


Desemprego

A taxa de desemprego é um importante indicador de inatividade. Vale lembrarmos que, para ser considerado desempregado, o indivíduo deve ter buscado por um emprego, pelo menos nas últimas semanas. Isso significa que, efetivamente, existe um número ainda maior de pessoas sem trabalho. No gráfico acima usamos como exemplo a taxa de desemprego nos Estados Unidos e o comportamento da curva frente a recessões:


A taxa real de desemprego, ou U-6, conforme relatado pelo BLS (Bureau of Labor Statistics), inclui os trabalhadores subempregados, os marginalizados e os desanimados. A taxa padrão, ou U-3, conta apenas aqueles que procuraram um emprego nas últimas quatro semanas. É possível ver que a curva cresce em períodos de crise.


Apesar de sua relevância, deve-se lembrar que ele reflete dados com atraso. Por exemplo, durante a crise financeira de 2008, nos Estados Unidos a recessão começou no primeiro trimestre de 2008, quando o PIB caiu 1,8%. Já a taxa de desemprego não chegou a 5,5% até maio de 2008 e alcançou um pico de 10,2% em outubro de 2009, após o término da recessão. Na recessão de 2001, o desemprego passou de 5,6% em 2002 para 6% em 2003, embora a recessão tenha terminado em 2002.


Investidores também utilizam esse indicador para avaliar estatísticas de desemprego em setores específicos. Caso seja observado que um determinado setor reduziu o número de empregados, poderão, por exemplo, adotar uma estratégia de venda de ativos referentes àquele setor.

Um altíssimo desemprego pode gerar deflação de preços, enquanto que um baixíssimo desemprego pode gerar o que conhecemos como hiperinflação.


Índice de Confiança do Consumidor (ICC)


Como o nome explica, tal indicador demonstra o quanto os consumidores estão dispostos a gastar seu dinheiro. O índice geralmente cresce em economias que expandem e decrescem nas que contraem, ainda que ele seja apresentado com certo “lag” de informação. Índices baixos revelam uma economia frágil, na qual os gastos passam a ser direcionados para produtos de necessidade básica, como estamos observando no período de quarentena causado pelo Covid-19.


Investidores, empresários, bancos e agências governamentais fazem uso de várias avaliações de consumidores para planejarem suas ações. Um índice de confiança baixo faz com que os fabricantes tomem medidas de redução de estoques, bancos se preparem para reduzir atividades de empréstimo, empresas de engenharia civil estimem quedas no volume de construção e governos iniciem medidas de redução de taxas de longo prazo para estimular a circulação no curto prazo. Por outro lado, se o índice é favorável, empresários planejam novas contratações, aumentam suas projeções e assim por diante.


Esse índice também é influenciado politicamente. Situações que apresentam grande instabilidade política, como a que vivemos hoje no Brasil, geram enormes incertezas que são refletidas na economia. No gráfico acima temos a variação do índice de jan/2014 até fev/2020 (lag do índice).


CDS


Nas últimas semanas, notícias têm sido publicadas acerca da alta do CDS brasileiro. O CDS (Credit Default Swap) é um tipo especial de contrato de swap, desenvolvido para transferir o risco de crédito de títulos de renda fixa entre pelo menos dois participantes.

A dinâmica funciona mais ou menos assim:


Esse instrumento financeiro é negociado no mercado de renda física em lotes de US$10 milhões de dívida do país de referência. No contrato fica ainda estabelecido que o comprador irá periodicamente efetuar um pagamento pela proteção ao vendedor de proteção (seguradora). Esse montante é normalmente determinado em basis points (pontos base). Cada basis point equivale a 1% dos US$ 10 milhões pelos quais cada lote é negociado.


Na visão macroeconômica, o CDS está relacionado com a probabilidade de um país arcar com suas dívidas. Quanto maior o risco de crédito deste país, maior o valor do CDS. Quem determina o risco do país são os agentes que atuam nesse mercado. Embora seja um ativo com alta especulação, as negociações diárias e flutuações de preços do CDS conseguem atuar como uma espécie de termômetro de confiança do mercado de um país.


Tendo refrescado alguns conceitos dos principais indicadores da conjuntura macroeconômica, poderemos compará-los nos diferentes ciclos econômicos, como mostra o diagrama abaixo:

Como é possível observar no gráfico, o desemprego tende a aumentar em períodos de recessão. Com a renda das famílias reduzida, o índice de confiança diminui e o consumo também passa a cair. Com a demanda por produtos e serviços em patamares inferiores, a produção tende a diminuir e consequentemente o PIB cai ou cresce a taxas menores. O investidor avesso a risco enxergará a elevação do risco CDS e provavelmente buscará países que ofereçam melhores oportunidades de risco-retorno. Essa dinâmica tem sido percebida no contexto de quarentena.


Para auxiliar na recuperação econômica, o Estado intervém aplicando políticas econômicas que ofereçam, por exemplo, a redução da taxa de juros. A taxa de juros mais baixa atrai a circulação de capitais e passamos a observar um movimento contrário do descrito anteriormente.


Espero que, com essas explicações, algumas dúvidas sejam resolvidas em relação a como analisamos os indicadores macroeconômicos. Se restarem dúvidas, deixem nos comentários!


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