Na teoria, existe uma estrutura ótima de capital, isso é, uma ponderação adequada entre o capital próprio, o qual provém dos acionistas e da própria gestão, e o capital de terceiros. Nesse nível ótimo, o WACC (custo médio ponderado do capital) será o menor possível.
Então, é importante compreender a razão pela qual as empresas utilizam dívida para se financiar e se existe algum limite para esse endividamento.
O custo da dívida é menor do que o custo do capital próprio: Existe uma razão intuitiva para entender essa afirmação. O sócio da empresa estará participando dos resultados da companhia em épocas boas e ruins. O credor, por sua vez, exige o pagamento dos recursos emprestados no prazo determinado e com juros, independentemente da situação que a empresa enfrenta.
Além disso, uma companhia só aplicará recursos em atividades cujo retorno seja, no mínimo, igual à remuneração de um ativo livre de risco (instrumento de renda fixa emitido pelo governo). Matematicamente, o custo de capital próprio incorpora um risco adicional pelo investimento em renda variável (sempre positivo), que não existe no custo do capital de terceiros.
Por fim, existem vantagens tributárias maiores no uso de capital de terceiros em detrimento do uso de capital próprio. Quanto maior a alíquota de IR, maior a vantagem da empresa em agregar recursos de terceiros na dosagem certa, pois, nesse caso, o custo real dos juros é inteiramente dedutível da base de cálculo de IR.
Vamos agora pensar em um exemplo prático para fixar o conceito: suponha uma empresa A que se financie inteiramente com capital próprio e uma empresa B que se financie 70% com capital próprio e 30% com capital de terceiros, a uma taxa de juros de 10% a.a. A alíquota de imposto de renda é a mesma para ambas (34%).
Com esse exemplo simples, conseguimos ver que o aumento da dívida acarretou um aumento do retorno ao acionista, representado pelo ROE (Lucro Líquido/Patrimônio Líquido ou Equity). Entretanto, uma observação importante a se fazer é que a alavancagem potencializa retornos, ou seja, se a empresa B tivesse apresentado um lucro operacional pior, ou mesmo um prejuízo, sua perda seria maior em relação à empresa que só usou capital próprio.
Como vimos pelo gráfico, à medida que a companhia vai elevando a participação de capital de terceiros no capital total, tanto os credores quanto os acionistas passarão, paulatinamente, a exigir maior retorno de seus investimentos. A partir do momento em que temos o WACC mínimo, o aumento da dívida não mais compensará o fato de seu custo ser menor.
Estabilidade econômica/institucional e nível de taxa de juros: Esses também são fatores fundamentais para definir a relação entre capital próprio e de terceiros. Se existe previsão de uma turbulência econômica ou de mudanças nos planos do governo, as empresas preferem evitar o endividamento. A grande diferença entre o custo de capital próprio e o custo de capital de terceiros é que o último envolve o desembolso fixo de recursos. Dessa forma, se a taxa de juros for muito elevada, o uso de alavancagem pode tornar-se insustentável.
Como tratar as mudanças de estrutura de capital no processo de valuation?
FCFE (Free cash flow to equity): Não se recomenda a utilização dessa metodologia quando são previstas mudanças bruscas na estrutura de capital de uma empresa. As alterações na estrutura de capital influenciarão tanto no cálculo das despesas e receitas financeiras no fluxo de caixa, como na taxa de desconto (influência via beta no custo de capital próprio), tornando muito mais difíceis as projeções. Para empresas maduras, por outro lado, é um método aplicável e mais simples do que o FCFF.
FCFF (Free cash flow to firm): Recomenda-se a utilização dessa metodologia quando são previstas mudanças relevantes na estrutura de capital de uma empresa. Ao chegarmos no valor da firma, exclui-se a dívida total e atinge-se o valor de mercado das ações. As mudanças na estrutura de capital influenciarão, portanto, somente o denominador, especificamente o WACC, tanto na proporção entre capital próprio e de terceiros, quanto na taxa de desconto (influência no capital próprio via beta e no capital de terceiros através de piora do rating da empresa).
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