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Perspectivas do investimento em Urânio



Como seria ótimo se achássemos um investimento em um mercado promissor, em que a demanda superasse a oferta e que acumulasse alta de 110% em 12 meses. Melhor ainda seria se o setor tivesse grande eficiência, escalabilidade e fosse alinhado com a pauta ESG. A boa notícia é que ele existe - trata-se do investimento em urânio - e há cada vez mais canais disponíveis para realizá-lo.


No passado, a energia nuclear era sinônimo de medo, sendo constantemente associada a eventos trágicos, como os acidentes de Chernobyl, em 1986, e Fukushima, em 2011, ou, até mesmo, às bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Porém, a energia nuclear, que tem como matéria prima fundamental o urânio, ganha cada vez mais importância na matriz energética mundial. Na França, por exemplo, em 2019, a representatividade da energia nuclear chegou quase aos 80%, segundo a International Energy Agency (IEA). Assim, seguindo a tendência de diversificação de fontes energéticas, a energia nuclear destaca-se como uma fonte limpa e alternativa, que evita o despejo de milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera todos os anos.

O processo de geração dessa energia consiste basicamente no uso de vapor, originado pela fissão nuclear, para movimentar turbinas. O processo de fissão nuclear, por sua vez, é caracterizado pela divisão de átomos em partículas ainda menores, liberando a energia que possibilita a formação do vapor para movimentar as turbinas. Tudo isso ocorre dentro do reator de uma usina, alimentado por pequenas pelotas de urânio do tamanho de cubos de açúcar, que possuem uma eficiência surpreendente - individualmente, são capazes de gerar a mesma energia de 1 tonelada de carvão ou de 150 barris de petróleo, de acordo com a Vitreo Investimentos. Tamanha é a eficiência do combustível à base de urânio que, em 2019, conforme a IEA, com apenas 9% da capacidade instalada nos Estados Unidos, a energia nuclear foi responsável por 20% de toda a energia gerada no país.


Para além da alta produtividade, a energia nuclear apresenta outros diferenciais. Ao contrário do que se pode pensar, a energia nuclear é mais segura do que outras fontes energéticas amplamente utilizadas hoje em dia. Todos os anos, quase 7 milhões de pessoas morrem graças aos efeitos nocivos da poluição, que decorre, principalmente, da queima de combustíveis fósseis. Ainda, em relação a outras fontes energéticas renováveis, a energia nuclear apresenta a vantagem de não depender de fatores exógenos para ser produzida, como é o caso da energia solar e eólica.


Nessa medida, é possível perceber que muitas são as vantagens da energia nuclear, levando à crença de que o setor de urânio parece ter um futuro promissor pela frente. Consequentemente, faz-se necessário compreender como é possível investir nesse setor, cuja demanda global é de 67 mil toneladas/ano e a expectativa, segundo a World Nuclear Association, é que a procura dobre até 2030.


A primeira delas é por meio de ETFs (Exchange Traded Funds), um tipo de investimento cuja rentabilidade tende a estar o mais próximo possível de seu índice de referência, que, nesse caso, é o próprio preço do metal urânio. Assim, sendo uma commodity, o preço do urânio é cíclico e fundamentalmente impactado por relações de oferta e demanda.

Dado que grande parte da produção de urânio é empregada na geração de eletricidade, o consumo ocorre em função de quantos reatores estão em operação no mundo. A demanda, por outro lado, depende não apenas do consumo, mas de práticas de gestão de estoque das concessionárias produtoras de energia, que estocam urânio para a produção de energia nuclear. Vale destacar que o acidente nuclear de Fukushima fez com que diversos reatores fossem desligados pelo mundo, principalmente na Alemanha e no Japão, onde a energia nuclear respondia por quase 30% de toda a geração de energia na época, diminuindo drasticamente o preço da commodity na época. Mesmo assim, nos últimos anos, com as necessidades de produção de energia limpa crescendo, a demanda por urânio voltou a superar a oferta.


Além disso, a oferta do urânio é altamente concentrada. Segundo o guia “How to Invest in Mining Stocks” da CRUX Investor, atualmente, 67% da produção total do mineral está concentrada em apenas três países: Cazaquistão, Canadá e Austrália. Por isso, quaisquer alterações nas produções desses países podem ter grandes impactos no mercado. Em 2005, por exemplo, após a Cameco - grande player do setor - anunciar que a mina canadense de Cigar Lake - maior depósito não desenvolvido de urânio de alto teor – tinha inundado e a produção levaria mais tempo do que o esperado, os preços do mineral dispararam de maneira expressiva, fazendo com que o preço do metal atingisse 136 dólares por libra. Algo semelhante ocorreu em 2020, quando, novamente, Cigar Lake fechou e outro grande player do setor, a Kazatomprom, diminuiu sua atividade.


Dessa forma, o mercado de urânio diferencia-se dos demais mercados de commodities devido ao caráter político do urânio e à concentração de oferta, de forma que, subitamente, podem ocorrer choques de demanda e oferta, causando mudança inesperada nos preços.


Outra forma de investir no universo do urânio é por meio da compra de ações de empresas do setor, como a canadense Cameco Corporation (NYSE: CCJ), a cazaquistanesa Kazatomprom (FTSE: KAP) e a canadense Denison Mines (NYSE: DNN). Ainda que essas ações não estejam disponíveis na bolsa brasileira, é interessante desvendar as formas de atuação das empresas no setor de urânio, até porque já existem fundos de investimento no Brasil compostos por ações de alguns desses players.


Basicamente, existem três tipos de empresas do setor de urânio: Exploradoras (Juniors), Desenvolvedoras (Mid-tiers) e Produtoras (Majors). As exploradoras são as companhias que exploram lugares para minerar e desenvolver minas, assim tendo pequeno Market Cap e alto risco, mas com possibilidade de alto retorno. Existem muitas exploradoras no mercado, porém não há nenhuma garantia de que elas encontrarão algum recurso a ser explorado, de forma que a grande maioria delas não terá êxito em suas apostas de exploração. Já as Desenvolvedoras, como Denison, são um investimento menos arriscado do que as Juniors, visto que atuam no pós-descobrimento e no período anterior à produção, com Market Cap menor do que US $1 bi. Por fim, as Majors, como Kazatomprom e Cameco, são mais bem estabelecidas e capitalizadas, apresentando baixo risco e fluxo de caixa estável.


Nesse sentido, por mais que as possibilidades de investimento em urânio no Brasil ainda sejam escassas, há uma tendência de crescimento, impulsionada pela intensificação de práticas ESG, regulamentações mais rígidas sobre a produção de carbono e aumento da demanda pelo metal. Para 2021, a expectativa é que a produção mundial de urânio cresça 3,1%, com o retorno da produção da Cameco em Cigar Lake e a retomada da atividade dos principais produtores de urânio do Cazaquistão. Ainda assim, trata-se de um caso de demanda descoberta que tende a persistir nos próximos anos com diminuição do investimento na produção: cenário perfeito para uma disparada no preço do urânio.


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