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As razões por trás dos IPOs de empresas de tecnologia brasileiras na Nasdaq




Com a queda na taxa básica de juros e a crescente facilidade para se investir nos últimos anos, vê-se, no Brasil, um grande fortalecimento da bolsa de valores, refletida no aumento em diversas métricas, como número de CPFs cadastrados, volume diário transacionado, e, como será elencado aqui, número de Initial Public Offerings (IPOs), ou seja, de empresas abrindo capital.

Houve um boom de IPOs na bolsa brasileira, principalmente no ano de 2020, e o ritmo continua alto até o presente momento. No entanto, outro movimento que ganha força nos últimos anos é a abertura de capital, em bolsas estrangeiras, principalmente na Nasdaq, a bolsa americana que concentra empresas de tecnologia.



Companhias Brasileiras como XP Investimentos, Stone e Afya Educacional são exemplos que optaram por realizar a emissão de ações na bolsa estrangeira, contudo, aquilo que mais chama a atenção são as projeções. Atualmente, outras grandes empresas como Banco Inter, Hotmart e PicPay já iniciaram o processo ou demonstraram o interesse em realizá-lo.



Ao observar essas movimentações, surge como relevante o destaque dos motivos que levam a tal situação. Por que empresas brasileiras têm preferido abrir capital na Nasdaq ao invés de fazê-lo na B3?


Existem alguns motivos que podem ser levantados para responder esse questionamento, que passam desde questões relacionadas às possibilidades trazidas pela regulação até mudanças na relação da postura dos investidores de uma bolsa e de outra.


Primeiro, evidencia-se alguns dados sobre ambas as bolsas. A B3 é a bolsa de valores brasileira, com cerca de 400 empresas listadas e com volume de negociações de R$ 31 bilhões. As empresas são as mais diversificadas, mas destacam-se aquelas dos setores financeiro e de commodities.


Enquanto isso, a Nasdaq é sediada em Nova Iorque e conta com quase 3 mil companhias, com uma movimentação diária de cerca de US$ 260 bilhões. Nela, por sua vez, há como destaque as principais empresas do setor de tecnologia, como Apple, Microsoft, Facebook, dentre outras grandes.


Além do mais, existem diferenças também no quão custoso é para realizar o processo de IPO em um ou outro país. Vê-se que no Brasil, no ano de 2020, esse custo, em relação ao valor gerado pela iniciativa, esteve por volta dos 6,7%, incluindo as comissões e despesas envolvidos, número esse que, historicamente, não varia muito em relação aos diferentes valores captados.


Ao analisarmos os Estados Unidos no ano de 2020, vemos que esse valor esteve por volta de 7%, para negócios de até 100 milhões de dólares, e chegando a 3,5%, para aqueles maiores de 1 bilhão de dólares. Tendo em vista que, comparando com a NYSE, o IPO na Nasdaq sai mais barato para as empresas, devido às taxas pagas.


Com uma grande concentração de empresas tech, na Nasdaq, cria-se um ambiente favorável para investimentos, uma vez que todas seguem as mesmas regras de governança e exigências de funcionamento. Isso facilita a comparação, algo vantajoso para o investidor, pois facilita a ele ter acesso a mais informações, resultando em mais segurança para realizar investimentos mais volumosos.


Por conta disso, a Nasdaq acaba tornando-se uma vitrine de empresas de tecnologia para compradores dos mais diversos países, ou seja, para as companhias, esse ambiente é uma grande oportunidade de exposição a investidores estrangeiros, expandindo sua base de acionistas, e, consequentemente, as possibilidades de captação de recursos.


Outro fator que faz com que seja interessante para empresas realizarem um IPO na Nasdaq é a taxa de juros básica da economia estadunidense. Historicamente, o FED (Federal Reserve) mantém a taxa baixa, sobretudo se comparado à Selic. O resultado disso é um cenário de alta liquidez, o que torna os Estados Unidos, no geral, um ambiente propício para investimentos. Assim, empresas brasileiras que procuram abrir capital lá contarão com um número muito maior de investidores, com acesso a mais crédito e com menor custo de capital.



Também vale ressaltar algumas questões regulatórias que contribuem para a escolha pela Nasdaq. A primeira é a existência do mecanismo de emissão de ações com voto plural. Estas são cotas especiais, cujos detentores têm direito a mais votos do que teriam com uma ação ordinária.


Dessa forma, uma brecha é aberta para maior capitalização da empresa sem que o controlador do momento anterior à abertura de capital perca seu direito, já que será necessária uma fatia menor da companhia para constituir maioria. Este mecanismo atraiu, por exemplo, o CEO da XP na época de seu IPO, Guilherme Benchimol.


Já a segunda é a porcentagem mínima de ações que a empresa é obrigada a disponibilizar ao abrir capital em uma bolsa de valores para serem negociadas publicamente, chamadas de free float, de modo a garantir a liquidez desses papéis. Essa porcentagem é estabelecida pela própria instituição, portanto muda de acordo com determinada bolsa. No caso da Nasdaq, o free float mínimo é de 10%, enquanto que na B3 é 25%. Assim, uma empresa, ao abrir capital na bolsa estadunidense, possui mais liberdade para decidir quanto do negócio deseja tornar público, quando compara-se à bolsa brasileira, o que pode ser visto como uma vantagem competitiva.


Pode-se então depreender que a união de todas as vantagens apontadas, como a maior base de investidores, o cenário de alta liquidez e as questões regulatórias favoráveis, leva diversas empresas brasileiras a optarem pela listagem estrangeira, que deve continuar vantajosa no longo prazo.

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