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A ascensão do populismo na Europa


Em fevereiro de 2018, Viktor Orbán, primeiro ministro da Hungria, realizou o seu primeiro discurso do ano sob a pauta de state of the nation. Enaltecendo a Hungria, disse: “Somos parte daqueles que acreditam que a última esperança da Europa é o cristianismo...se tudo isso continuar — referindo-se à imigração — as cidades grandes da Europa terão uma maioria muçulmana”. Atualmente, a Hungria é ameaçada de sanções pela União Europeia, como consequência de políticas supostamente xenofóbicas e do controle que tem estabelecido sobre as instâncias do regime democrático.

Mais ao sul da Europa, destaca-se a ascensão do partido italiano Lega Nord. O atual líder do partido, Matteo Salvini, é o Ministro do Interior, responsável por lidar com assuntos relacionados à imigração. Como consequência de suas políticas, o ministro é frequentemente acusado pelas Nações Unidas de violação aos direitos humanos. A proibição da entrada de embarcações de refugiados no país é, portanto, uma constante que exemplifica esse radicalismo.

O radicalismo nas lideranças políticas, como a de Orbán e Salvini, tem aumentado seu grau de representatividade em toda Europa. O processo político pelo qual passa o Velho Continente ainda se manifesta de diversas outras maneiras, como no Brexit e nos gilets jaunes. Porém, não se trata de algo homogêneo, pelo contrário, trata-se uma manifestação de um sentimento antiestablishment diverso, que vem abrindo alas para a ascensão de determinadas correntes populistas.

É difícil caracterizar um movimento tão amplo no cenário heterogêneo da atual conjuntura europeia. Porém, através de algumas frases dos manifestantes dos gilet jaules franceses, é possível exemplificar o sentimento de revolta que se formou: “Hoje, a elite está matando o povo francês...tem pessoas na rua, sem lugar para morar...é tudo tão caro, os pensionistas estão sofrendo, é difícil para todos...Macron é um idiota”.

O movimento dos gilet jaunes tornou-se mundialmente conhecido. Começou com um protesto em relação ao aumento na tarifa do combustível por parte do governo e adquiriu uma forma muito maior de manifestação. Os coletes amarelos trouxeram à tona uma insatisfação generalizada com o sistema político e com as condições de vida em uma das principais economias da União Europeia. Hoje, reduzido, o movimento não é mais uma pauta tão recorrente na mídia, mas trouxe consigo um olhar mais atento para a França, que parecia ter sido um país em que o populismo de Le Pen não teria vez.

Ainda com vistas a caracterizar o cenário europeu, a pesquisa Poorer than their parentes? Flat or falling incomes in advanced economies (Mais pobres do que seus pais? Rendas decadentes ou estagnadas em economias desenvolvidas) é um estudo da Mckinsey de 2016, por meio do qual se demonstra a maneira como a renda, em especial da classe média, decresce de maneira significativa nos países desenvolvidos.

Segundo a pesquisa, entre 2005 e 2014, mais de 25 economias desenvolvidas tiveram a renda per capita reduzida ou estagnada. Destaca-se o fato de que foram os trabalhadores mais jovens e com menor grau de instrução os mais atingidos. Na Europa, especificamente, destaca-se o crescimento de 25% no número de trabalhadores temporários entre 2001-2015, aumentando a vulnerabilidade da sua renda. Percebe-se assim, a maneira como as perspectivas econômicas da população também tem grande influência em relação ao cenário político atual.

Para Minouche Shafik, diretora da London School of Economics, o sucesso dos populistas advém do fracasso dos partidos tradicionais europeus. Para ela, os partidos democráticos deixaram de desenvolver uma política que promovesse prosperidade compartilhada, segurança econômica e identidade nacional — desafio de uma sociedade globalizada. Enquanto isso, países de governos não democráticos e não liberais como China, Índia e Turquia tornaram-se referências de crescimento mundial. O crescimento do PIB desses países em 2018 foi de aproximadamente 6,4% na China, 7,4% na Índia, 4,1% na Turquia e 3,5% em Singapura. Crescimento esse, muito superior àquele apresentado pelas principais economias europeias, colocando um modelo alternativo de governo em evidência.

O cenário europeu é incerto em torno da certeza de mudança. Na Espanha as eleições devem ocorrer em abril, com o embate de dois partidos extremistas: Podemos e Vox. Além disso, em maio, as previsões para as eleições no Parlamento da União Europeia indicam um aumento significativo de partidos nacionalistas, extremistas e populistas, conforme as tendências já apresentadas.

De certa forma, portanto, há a construção de um continente diverso daquele que estamos acostumados a observar. O populismo tornou-se a nova manifestação do nacionalismo e, com isso, há cada vez mais a criação de uma identidade social voltada para a exclusão. Para Micouche Shafik, “a história sugere que os populistas vão ocupar o Estado...suprimir as críticas e frustrar a independência das instâncias democráticas”. Trata-se da previsão do fim de um regime liberal e do início do chamado “iliberalismo”.

Ao mesmo tempo, outros encaram esse momento como uma oportunidade de reconstrução da União Europeia. Mario Monti, presidente da Università Bocconi percebe o movimento de ascensão do populismo como uma crítica ao funcionamento do sistema, crítica essa, que pode ser vista como uma oportunidade de reorganização e melhoria para a Europa no longo prazo.

Em visões divergentes, percebe-se como tendência a quebra de determinados paradigmas de sustentação da União Europeia, na qual se há ou uma reorganização ou uma desconstrução do sistema político europeu.






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