Dias atrás foram anunciados a data e o local oficiais para aquela que será, sem sombra de dúvidas, uma das reuniões mais importantes dos últimos anos, senão décadas: a reunião entre Donald Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos, e Kim Jong-un, o terceiro ditador da Coréia do Norte desde Kim Il-Sung. Tal encontro ocorrerá em 12 de junho, em Cingapura, tida como um local razoavelmente neutro, onde já ocorreram outros encontros diplomáticos, como, por exemplo, o ocorrido entre o presidente chinês Xi Jinping e o presidente de Taiwan à época, Ma Ying-jeou. Porém, será que realmente se deve esperar que haja uma mudança total na política norte-coreana quanto à nuclearização do seu arsenal, mirando agora uma desnuclearização?
Dado todo o tempo levado desde a criação do primeiro míssil balístico, o Hwasong, em 1984, até a apresentação de um míssil com capacidade de atingir os Estados Unidos, em 2017, seria no mínimo ilógico abandonar o projeto e iniciar uma desnuclearização de seu armamento, dado que tal projeto é uma parte vital do principal objetivo do regime de Kim Jong-un, que é se manter no poder. Diferente do perfil que é muitas vezes criado do ditador norte-coreano, os testes realizados pelo país não têm somente a finalidade impulsiva de demonstrar poder em uma briga de egos, mas sim de manter o regime vigente e coibir qualquer ação contra ele, ainda mais em meio a sucessivas quedas de países de regimes ditatoriais.
Ao longo dos últimos 7 anos, pudemos observar regimes ditatoriais sendo derrubados, principalmente após a Primavera Árabe, momento no qual pode-se destacar a queda de um regime que teve ajuda externa para concluir sua derrocada, o de Gaddafi, na Líbia. Tal regime nunca foi fortemente ligado nem ao Oriente Médio, devido a uma série de conflitos de interesse com seus vizinhos, nem ao Ocidente, resultado de uma série de ataques terroristas associados ao país norte-africano, que levou até mesmo ao bombardeio de Trípoli por Reagan, em 1986. Entretanto, a partir do fatídico evento de 11 de setembro de 2001, houve uma grande aproximação da Líbia ao Ocidente, devido a uma coesão de interesses com os Estados Unidos (havia um mandado de prisão internacional para Osama bin Laden desde 1998 em território líbio), que ocorreu junto de uma desistência, em 2003, de seu programa de construir armas nucleares. Entretanto, com certa volatilidade na relação entre os dois países, e com as crescentes tensões com a Guerra Civil na Líbia, o final do regime de Gaddafi foi decretado com a intervenção militar liderada pela OTAN, em 2011, a qual deu fim ao regime em questão de meses.
Além de observar o que aconteceu em território líbio, o regime norte-coreano também vê a Guerra Civil Síria, que reforça como, ao longo do tempo, regimes ditatoriais que não tem nenhum tipo de barganha, seja pela força bélica ou econômica, tendem a deixar de existir. Assim sendo, a dinastia Kim seguiu para o caminho mais seguro de alcançar a manutenção no poder: a produção de um arsenal nuclear. Tal estratégia parece, até agora, ter sido certeira, afinal nunca se cogitou uma ação parecida com as que ocorreram na Líbia ou na Síria em território norte-coreano. Como consequência dessa “paciência” ocidental quanto ao regime, justamente por causa desse poderio, é improvável que Kim Jong-Un opte agora por uma desnuclearização de seu país, mesmo com uma tentativa de diálogo vinda do norte da península coreana. Apesar das necessidades que a Coréia do Norte passa, as quais encorajam seu líder a procurar uma maior cooperação com sua vizinha Coréia do Sul, pensando até mesmo em um maior desenvolvimento econômico, não devemos esquecer que o objetivo do regime segue intacto desde 1945, sendo ainda o de conseguir a sua própria manutenção no poder, e muito provavelmente não será o encontro com Donald Trump o responsável por mudar os planos de perpetuação.
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